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Entrevista

Mercado imobiliário reage na crise, mas construtores ficam com a menor parte

Com aumento nas vendas faltou material de construção porque a indústria parou em função da pandemia

A reação do mercado imobiliário em plena pandemia surpreendeu os analistas e trouxe uma nova realidade para o setor. Em Mato Grosso do Sul não foi diferente. O presidente da Associação dos Construtores do Estado, Adão Castilho, numa entrevista ao programa CBN Campo Grande, comentou os desdobramentos desse efeito, reconhecendo o crescimento do mercado,  destacando que a maior fatia continua ficando com a indústria e não com os construtores. Vejas os principais trechos da entrevista concedida ao jornalista Ginez César.

A venda de imóveis cresceu 39% no Brasil, em relação ao ano passado. Tendo em vista esse crescimento em meio a pandemia, podemos o definir como um setor forte, que mesmo com a crise, apresentou um crescimento significativa. Isso também tem alguns efeitos colaterais. Um exemplo é que alguns produtos básicos da construção civil estão difíceis de se encontrar no mercado. Presidente, o que esses dados significam?

Adão Castilho Esses dados são muito importantes porque a construção civil recebeu um grande impacto com a chegada da pandemia, e de lá para cá ela vem se sobressaindo, o que foi muito bom. 

Já percebemos que vários empreendimentos voltaram a anunciar novas obras e novas construtoras atuando no mercado. Isso quer dizer que a retomada já começou forte para o setor?

Castilho Sim. No início da pandemia, o setor civil não foi diferente dos demais setores, tanto é que a no início foi paralisado. Mas o mercado nos surpreendeu. No início da pandemia houve uma retração, todos os projetos que estavam para ser iniciados foram engavetados e as indústrias também. Em contrapartida, as vendas alavancaram em torno de 26%, e isso mostrou que o mercado não parou e que era preciso retomar urgentemente. Isso nos causou um problema sério porque a demanda aumentou. Pequenos empresários da construção civil voltaram a construir a todo vapor. Mas, com as industrias paralisadas teve um problema muito sério para manter estoques.  E quem  já tinha desafogado seu estoque.  

Com o descompasso e retomada da indústria, alguns produtos ainda estão difíceis de se encontrar no mercado. O senhor acha que vamos voltar ao normal de forma rápida, pelo menos até o final deste ano?
Castilho Sim, essa é a tendência. Com todos retomando suas atividades a tendência é o mercado se equilibrar. Agora, no momento, com a demanda muito alta, logicamente, nós que estamos na ponta, encontramos os preços muito mais alto do que apontam as pesquisas. 
Só o cimento subiu mais de 30%, tijolos em torno de 40%. Temos também a parte hidráulica que subiu quase 100%. Essa alta foi muito forte, nós tivemos várias reuniões, e isso não é apenas aqui em Mato Grosso do Sul, mas sim em todo o Brasil. 
Nós estamos brigando muito, junto aos parlamentares, junto as indústrias, porque o crescimento é muito importante, mas precisamos da consciência dos empresários, porque além do aumento das indústrias, existem lojistas que também aumentam os preços, talvez por conta de frete ou outras situações. Quem está construindo está sofrendo, principalmente o pequeno empresário, que representa 42% da cadeia da construição civil. 
 

E quem sofre mais com isso?
Castilho O pequeno empresário é o mais atingido porque ele compra das lojas de materiais de construção. Já as grandes empresas compram direto das indústrias. Hoje está mais cômodo construir grandes empreendimentos, porque faz uma programação e as indústrias entregam. Já os pequenos, estamos sofrendo muito, tanto com o preço quanto com a demora de entrega dos  produtos. Então, a dificuldade está sendo grande, mas o mercado está respondendo totalmente o contrário do que estamos enfrentando.

Com a sua experiência e ponto de vista, o que está contribuindo para essa elevação de preços, além da demanda nessa reta final do ano?
Castilho A construção civil nunca decola, quando começamos logo ela despenca novamente, e agora, em 2019, tínhamos uma projeção de crescimento de 3% no mercado da construção civil, estava tudo preparado para esse crescimento, mas o que aconteceu? A construção civil em 2019 começou a todo vapor depois da pandemia. Com o empresário, as indústrias, visualizando, na minha concepção, oportunidade de tirar o atraso do que vem acontecendo, mas alguém terá que pagar essa conta. Ou nós da construção civil, ou quem vai comprar a casa. Se nós achamos que no setor, é injusto pagar esse reajuste abusivo, porque a construção civil não tem esse lucro, pois o setor não valorizou de 15 a 20%. Está aí a valorização da construção civil de 3,8%, isso é o crescimento da construção civil, não de 15 a 20% que hoje estamos enfrentando.

Então o ganho está na indústria?
Castilho Exatamente, o ganho está na indústria e muitas vezes quando é repassado para as pontas, para os depósitos, também ganham um pouco mais, então isso onera a cadeia demasiadamente. 

Destacando mais esse crescimento, percebemos que não só a Caixa Econômica Federal, mas outros bancos também acabaram entrando com mais força nesse segmento. E essas linhas de financiamento, acabaram ajudando nesse empurrão para a construção civil? 
Castilho
Com certeza, essa preparação começou em 2019, hoje temos várias instituições financeiras com juros atrativos, desburocratização do setor da construção civil. Tivemos também o alvará imediato, construção de imediato. O trabalho que foi feito junto com instituição financeira preparou todo o mercado com uma taxa Selic de 2%. A Caixa Econômica, por exemplo, só tinha a TR, hoje temos também o IPCA, pela instituição, que é a taxa real de inflação por mês, você tem uma taxa bem abaixo. Logicamente que essa de contrato que será feita de acordo com a inflação. E mais, também na questão da caixa, quanto os juros da TR, que a partir do dia 22 de outubro cairam 1%. 

Pelo ritmo, como você avalia 2021?
Castilho
Bastante promissor. Tenho certeza que a cadeia da construção civil e as indústrias vão repensar, daqui a quatro meses teremos a resposta de que os preços serão estabilizados. As indústrias estão se preparando, então a balança vai se equilibrar. Os insumos para o início de obra estão muito altos,  mas daqui uns meses vamos normalizar os preços. E acreditamos que em 2021 será bastante promissor para a cadeia da produção civil. Então nos preparamos para alavancar no próximo ano. Estamos com débito habitacional de quase oito milhões de casas, em todo o Brasil, então isso é muito importante.