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Entrevista

Brasil cometeu uma ‘sucessão de erros’ no combate a Covid, avalia Mandetta

Ex-ministro: Médico Luiz Henrique Mandetta falou sobre as medidas de contenção da epidemia, economia e política na CBN Campo Grande

Médico Luiz Mandetta falou sobre ações contra Covid-19 - Luciene Arakaki/CBN
Médico Luiz Mandetta falou sobre ações contra Covid-19 - Luciene Arakaki/CBN

O Brasil cometeu uma “sucessão de erros” desde o início da pandemia do novo Coronavírus, principalmente em razão da discordância política entre o Ministério da Saúde e o presidente da República, Jair Bolsonaro. A avaliação é do ex-ministro da Saúde, médico Luiz Henrique Mandetta, que esteve esta semana debatendo o cenário da pandemia no Brasil, em entrevista ao vivo na CBN Campo Grande. O médico que esteve a frente de uma das pastas mais desafiadoras do governo federal, falou sobre política, falta de insumos, colapso na saúde e ainda fez análises sobre a economia e política. Os principais pontos da conversa você confere abaixo:

Qual a sua avaliação deste último ano de pandemia aqui no País?

Mandetta Hoje faz um ano que a Organização Mundial de Saúde reconheceu uma pandemia. Eu me lembro que ainda no início de fevereiro a gente praticamente não tinha nenhum caso. Mas na época a gente já chamava a atenção pela velocidade com que o vírus ia se alastrando no mundo. A gente sabia e eu disse naquelas primeiras coletivas, na época, que tratava-se de uma pandemia. Se tivesse informação da velocidade de transmissão do vírus, teríamos providenciado outras estratégias. Foi só após a confirmação que era pandêmico que ações começaram ser adotadas, antes  tendo que preparar o SUS, segurar porque se a doença chegasse no povão sem respirador, sem máscaras era momento de muita ansiedade. Mas aí a gente começou a sofrer com uma voz discordante por parte do presidente. Apontava um caminho, o presidente mostrava outro.Usa álcool gel, não usa. Isso foi trazendo uma mensagem dupla e a sociedade se dividiu e, dali para frente, quem era cloroquina…uma sucessão de erros.

Com o senhor vê este desalinhamento entre as medidas de restrição e a política? 

Mandetta Isso nasce primeiro da falta de liderança da União. Se você não tem o Ministério da Saúde, se coloca um general lá para não fazer mais o alinhamento com estados e municípios, é dar sinalização contrária. Isso é uma condição macro. Agora, teve um episódio nesta história que foram as eleições municipais. Os prefeitos que foram para a reeleição, eles relaxaram as medidas e começaram a não mais implantá-las. Os que estavam na oposição falavam se eu ganhar a eleição eu vou liberar tudo. Falando aquilo que dava voto. A ótica política era essa. Uma gripezinha, não é nada. Aproveitando a queda quando terminou as eleições eles não tinham mais força. Começa haver uma babel de informações, os prefeitos estão fracos politicamente para tomar algum tipo de medida e o governo do Estado não tem capilaridade nem força para colocar estas medidas. Aconteceu em MS e, em outros estados, esta crise sanitária potencializada pela crise política.

Porque esta sensação de surpresa ainda com a falta de insumos e de leitos?

Mandetta Na primeira onda que como vocês chamam, abril maio, junho, e julho a gente chegou a ter quase 1.500 casos em 24 horas de mortes.  O cálculo que fizemos de leito em Campo Grande, por exemplo a gente tinha 98 leitos no total de CTI para infartados, tudo. O cálculo que a gente fez é que aqui iria necessitar para aquele momento 300 leitos, quer dizer, você multiplicou por três o tamanho do sistema. Ai pergunta porque que não abrimos,  não põe o respirador? Mas este paciente é critico, precisa de gente especializada para tratar o crítico o sistema de saúde. Ele tem uma capacidade de , mas não é infinita. Ou você para, opta por recursos humanos, ou insumos, é aritmético. 

Com relação a economia, como o senhor vê a situação hoje?

Mandetta Se a gente não entender que devemos adotar comportamentos mais duros, a economia vai continuar patinando. Durante seis meses, o PIB não podendo crescer é uma tragédia para o comportamento econômico. É muito preocupante quando dependemos somente de um setor. Estamos muito vulneráveis na economia.