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Operação pode interromper migração ilegal diária de até 150 haitianos na fronteira com Bolívia

Coiotes em Corumbá cobravam US$ 500 por família para realizar travessia ilegal

Haitianos em local conhecido como "Trilha do Gaúcho", na divisa entre Corumbá e Puerto Quijarro, usada para driblar a fiscalização de autoridades bolivianas - Foto: Divulgação/PF
Haitianos em local conhecido como "Trilha do Gaúcho", na divisa entre Corumbá e Puerto Quijarro, usada para driblar a fiscalização de autoridades bolivianas - Foto: Divulgação/PF

Operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (31) em Corumbá contra coiotes que faziam a travessia ilegal de haitianos do Brasil para a Bolívia pode interromper um grande fluxo de migração nessa região de fronteira.

Desde janeiro de 2021, uma média entre 30 e 60 haitianos, vindos de várias partes do Brasil, passaram a chegar em Corumbá. Eles vinham até o extremo oeste de Mato Grosso do Sul no fluxo para saírem do território brasileiro e seguirem para outros países, como Chile, Peru, México e Estados Unidos.

Esse fluxo migratório passou a ficar cada vez mais intenso ao longo deste ano e a partir de julho, a média de até 60 pessoas chegando em Corumbá aumentou para 100. Agora em agosto, estimativa aponta que até 150 haitianos estavam desembarcando por dia em Corumbá. Essa estimativa de público foi feita pela Gerência de Proteção Especial da Prefeitura de Corumbá, que faz atendimento a migrantes. Esse órgão público atende principalmente migrantes que não tem dinheiro ou são refugiados, situações que não estão ligadas aos haitianos em Corumbá.

De acordo com um haitiano de 42 anos que fez a travessia em junho deste ano e que a reportagem conversou, porém ele pediu anonimato, o caminho dessa população tende sempre a ser o mesmo. Eles chegam na cidade, passam de um a três dias e continuam a viagem para realizar a travessia pela Bolívia e seguir até o Chile, onde os salários estão maiores que no Brasil. Há outras pessoas, inclusive famílias, que tentam entrar nos Estados Unidos.

Porém, para completar esse caminho é preciso cortar o território boliviano. E ao invés de solicitarem o visto de viagem, autorização obrigatória que a Bolívia exige para cidadãos do Haiti, os haitianos acabavam pagando para coiotes realizarem a travessia. O valor varia de R$ 2 mil a US$ 500 por família. No trâmite legal, seria preciso solicitar autorização no Consulado em Corumbá, o que poderia levar dias, encarecer o trajeto e haver o risco de negação do pedido.

Conforme apuração da reportagem da CBN em Corumbá feita nos locais onde os haitianos hospedavam-se, a grande maioria dessas viagens já estavam acertadas antes dos estrangeiros legalizados chegarem à Capital do Pantanal. A reportagem presenciou nesta terça-feira famílias inteiras hospedadas em hoteis da cidade em que a diária custa cerca de R$ 40. Ninguém quis falar, alegando medo de represálias.

Nessa operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (31), um brasileiro e três haitianos foram presos pelo crime de migração ilegal. A travessia dos haitianos era feita em uma trilha que fica a cerca de 500 m de um Posto da Polícia Federal, na divisa de Corumbá com Puerto Quijarro. Por esse trajeto, há uma mata e um córrego, que está quase seco por conta da estiagem.

A PF ainda apreendeu na operação R$ 3.342 reais, além de US 1.165 dólares. Outros materiais apreendidos também foram celulares e documentos. Haverá agora uma avaliação dessas apreensões para identificar detalhes do esquema de migração ilegal e se havia pessoas de outras parte do Brasil envolvidas.