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Corrida Presidencial

Terceira via fragmentada coloca dúvidas sobre escolha por Simone Tebet

Resistência interna no MDB ao nome da senadora e divergências públicas no PSDB colocam em xeque o poder do grupo de centro

A três-lagoense Simone Tebet, senadora pelo MDB de Mato Grosso do Sul, é o nome escolhido pela dita terceira via para representar o grupo nas eleições presidenciais deste ano. Ao menos, é o que a própria parlamentar garantiu em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira (25) em Brasília (DF), mesmo que contando com pouco apoio.

Retransmitida nas redes sociais, poucos foram os que acompanharam ao vivo o pronunciamento de Tebet, demonstrando baixa adesão da militância. No canal oficial do MDB Nacional no YouTube, por exemplo, os cliques ficam na casa dos 130 simultâneos, número baixo.

Mesmo assim, chama a atenção do mundo político o pronunciamento de Simone, que garante ser o nome escolhido pelo seu partido e também pelos aliados Cidadania, presidido por Roberto Freire, e que pode se federar em breve com o outrora poderoso PSDB, outro possível apoiador.

Simone tenta surgir como opção viável, revelando suposto apoio da maioria dos emedebistas e tucanos. Contudo, nomes fortes como o do cacique alagoano Renan Calheiros não digerem os meros 2% dela nas pesquisas. Já no PSDB, o mineiro Aécio Neves é um dos que defendem a candidatura própria, contrariando carta conjunta das siglas.

"A minha maior missão é pacificar com as pessoas. É dialogar com as pessoas. E resolver o problema de todas as pessoas. É para isso que eu me predisponho a estar ao lado desses homens públicos de outros partidos que virão para dizer que o Brasil tem jeito. Eu acredito", declarou Simone durante sua fala na coletiva de hoje.

TERCEIRA VIA

O enredo da chamada terceira via, grupo de centro que tenta ser opção à polarização entre Jair Bolsonaro (que nessa concepção representa a direita) e Lula (esquerda) neste ano, começa a partir de insatisfeitos com Jair que o auxiliaram nas eleições de 2018 ou no início da gestão, quando reformas congressuais foram realizadas.

Os primeiros nomes à surgirem nesse grupo para uma eventual disputa presidencial em 2022 foram os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública). No decorrer da pandemia de covid-19, o então governador paulista João Doria também emergiu como um forte concorrente para colocar a polarização em xeque.

Contudo, todas as opções acima elencadas naufragaram: Mandetta, então no DEM (partido que se fundiu com o PSL e virou o União Brasil), logo teve que sair de cena. Recentemente, foi a vez de Moro recolher asas, mesmo tendo bons índices de intenção de votos.

Nesta semana, o terceiro nome a derreter foi o de João Doria, boicotado no ninho tucano por seus correligionários mesmo após vencer as prévias contra o gaúcho Eduardo Leite e ter abdicado do mandato de governador de São Paulo.

As situações acabam demonstrando que, mesmo com apelo popular e grande exposição midiática, os nomes que surgiram antes de Simone "queimaram largada" e foram pulverizados antes mesmo do período de campanha. Agora, Simone tenta contrarar a lógica dos três companheiros de terceira via e não também sucumbir e vagar no "mar eleitoral" como um barco à deriva.

SIMONE

Simone Tebet surgiu em meio ao contexto de quem reprova Bolsonaro e Lula. Senadora que se destacou como presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado e por sua atuação na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Pandemia, é filha do ex-senador Ramez Tebet, ex-vice-governadora e ex-prefeita de Três Lagoas.

Ainda que por baixo nas pesquisas, sem saltar aos olhos nas intenções de votos, ela trouxe para o si o trunfo de ser a pré-candidata com o menor índice de rejeição e também o potencial de conquistar o chamado "voto feminino". Todavia, ainda falta musculatura.

Enquanto o PSDB expõe uma ferida enorme na tríade partidária, a terceira via já mostrou em outras oportunidades a falta de consenso sobre nomes e capacidade de aglutinar apoio em torno de um único nome. Prova disso é a saída do União Brasil da aliança. A sigla tem a maior fatia dos recursos do fundo eleitoral, e debandou por desacordo.

EM CASA

Em Mato Grosso do Sul, seu berço, a situação também não anda das melhores. Mesmo com seu marido Eduardo Rocha (MDB) em posição central na gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB), ela não conseguiu construir palanque com o chefe do Executivo e seu candidato a sucessão local, o ex-secretário Eduardo Riedel – este terá ao seu lado Bolsonaro.

Por outro lado, André Puccinelli, ex-governador e pretendente a um retorno ao cargo, não parece ser um dos maiores entusiastas da candidatura de Simone. Mesmo dividindo sigla com sua afilhada política, como fez questão de reafirmar no passado inúmeras vezes, André não conta com ela em seu palanque, preferindo outros candidatos.

Entre os nomes procurados por ele, está Jair Bolsonaro. Conforme fontes da reportagem, mesmo após receber pedido de sua braço direito Tereza Cristina para audiência com o ex-governador, o presidente se negou à recebê-lo. Já a outra opção procurada por ele foi Lula, onde ao menos houve maior receptividade da equipe política do ex-presidente.