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Entrevista

‘Cultura brasileira tem influência em diagnóstico de câncer colorretal’

Oncologista diz que consumo de carne vermelha, embutidos e bebida alcoólica são hábitos que podem provocar a enfermidade

Estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer) mostram que, no último ano, 36 mil novos casos de câncer colorretal foram diagnosticados no Brasil. A doença, responsável pelo surgimento de tumores no cólon, reto e ânus, causou 16,7 mil mortes no país, segundo dados do Atlas de Mortalidade por Câncer, atualizado pelo Inca.  De acordo com o oncologista Cezar Augusto Galhardo, a cultura alimentar dos brasileiros, carregada de produtos embutidos de carne e o álcool, é a principal causa do câncer colorretal.

“Os fatores de risco de colorretal estão ligados, diretamente, a uma alimentação com muita carne, embutido, como presunto, mortadela, salame e, ao consumo de bebida alcoólica”, explica.  Silenciosa, a doença surge quando uma camada de células do intestino é agredida e ocorre a formação de pólipos, também conhecidos como verrugas. Essas formações demoram até 15 anos para se regenerar e o tratamento deve ser feito nesse período para evitar o câncer.

Jornal do Povo – Como surge o câncer colorretal no organismo?
Cezar Augusto Galhardo – A história natural do câncer colorretal funciona assim: eu tenho uma camada normal de células dentro do intestino e ela é agredida por algum motivo e vira uma verruga, um pólipo. E esse pólipo demora cinco até quinze anos para que ele comece a se degenerar e, depois, vai virar um câncer. Então, este é o período em que a gente tem para 'pegar' esse paciente porque ele não vai ter sintomas. E, aí tratar dele antes que vire um carcinoma. 

JP – Há sintomas?
Cezar – Na maioria das vezes não. Quando aparece sintoma, normalmente, a doença já está mais avançada. Então, por isso, nós temos que detectar esses pacientes antes deles apresentarem os sintomas.

JP – Há fator de risco?
Cezar – A nossa cultura brasileira tem muito a ver com os fatores de risco, que estão ligados diretamente a uma alimentação com muita carne e embutidos, como presunto, mortadela e salame, e ao consumo de bebida alcoólica. Nós comemos muita carne vermelha e, aqui no Estado, então, nem se fala! Nós estamos ligados diretamente a esse câncer por conta dos nossos fatores de risco. 

JP – Homens têm mais resistência para fazer o exame? Como é feito o exame?
Cezar –
Existem várias maneiras. Existe o rastreamento, em que o médico faz pesquisa com exame de sangue oculto [nas fezes], mas, o ideal é um exame chamado colonoscopia. A colonoscopia é um exame como se fosse uma endoscopia em que é utilizado um aparelho que percorre todo intestino grosso procurando lesões, pólipos ou outros tipos de lesões que possam ser um câncer ou, eventualmente, no futuro, virar um câncer.

JP – Qual a recomendação para a população em geral e para quem tem histórico familiar?
Cezar –
A Sociedade Brasileira de Coloproctologia e de Cirurgia Oncológica recomenda a primeira colonoscopia, que era aos 50 anos, e agora, aos 45 anos. Isso para a população normal. Aquela pessoa que tem um parente de primeiro grau – pai ou irmão – com câncer colorretal, o ideal é fazer 10 anos antes do aparecimento no familiar. Ou seja, se o familiar teve esse câncer aos 40, o ideal é que o filho faça aos 30 anos de idade a primeira colonoscopia. E a partir daí, vai depender do que foi achado na colonoscopia.