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Alta de juros deve deixar crédito mais caro e frear consumo

Com menos crédito disponível no mercado, o brasileiro deverá reduzir as compras e, com isso, contribuir para a desaceleração dos preços

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 11,75%, anunciada na quarta-feira (2), deverá deixar os empréstimos mais caros e, com isso, reduzir o poder de compra do brasileiro. Por isso, a partir de agora o consumidor deve ter ainda mais cautela antes de fazer compras ou pegar dinheiro emprestado.

O vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, explica que o principal motivo para a elevação dos juros é a inflação. Ele afirma que o aumento da Selic deverá deixar os empréstimos levemente mais caros.

– O impacto é pequeno no bolso do consumidor, mas o efeito psicológico é grande porque essas medidas, que têm o objetivo de enxugar o crédito, deixam o empréstimo mais difícil e os prazos para pagá-los se encolhem.

Com menos crédito disponível no mercado, o brasileiro deverá reduzir as compras e, com isso, contribuir para a desaceleração dos preços. Oliveira explica que “o aquecimento da economia gera um consumo maior que o desejável, o que traz alta nos preços”.

– O aumento dos juros no início do ano [em janeiro, o Copom elevou de 10,75% para 11,25%] não foi suficiente para conter o consumo, que já estava em alta, porque o efeito dessa elevação [no bolso do consumidor] foi muito pequeno. No entanto, as altas seguidas da Selic [ao longo deste ano] podem, sim, fazer o consumidor colocar um pé no freio.

O assessor econômico da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Fábio Pina, concorda que a alta dos juros deverá gerar efeitos no consumo ao longo do tempo.

– O juro já encareceu e o prazo [para pagar empréstimos] caiu para a pessoa física. Isso quer dizer que as pessoas tendem a sentir isso como medida restritiva e, por isso, consumir menos.

Pina alerta que, embora seja uma forma de conter o poder de compra do brasileiro, a alta da Selic pode causar reflexos negativos no setor produtivo.

– Isso deve reduzir o nível de atividade nas empresas, o que deve fazer diminuir o ritmo de contratações.

Com uma possível sucessão de altas na taxa de juros e com o crédito mais caro, o vice-presidente da Anefac enxerga uma ameaça para o pagamento das dívidas em dia.

– Isso pode trazer o crescimento da economia para baixo e se refletir no desemprego e no aumento da inadimplência. Naturalmente, as pessoas podem ficar preocupadas em perder o emprego e deixam de comprar, mas a ideia do BC é essa mesmo.