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Dólar fecha em alta de quase 1% nesta sexta e sobe 8% no mês

Moeda terminou o dia a R$ 1,885, com valorização de 0,96%. Sequência de altas é a mais longa desde o auge da crise financeira global.

Depois de abrir em baixa, o dólar comercial mudou de direção e voltou a ganhar valor, fechando em alta nesta sexta-feira (29). A moeda norte-americana terminou o dia vendida a R$ 1,885, em alta de 0,96%.

   

No mês, o dólar acumulou valorização de 8,1%. A moeda norte-americana subiu nos últimos nove pregões consecutivos, que se igularam à sequência de valorização do "ápice" da crise internacional, em setembro de 2008. Na semana, a divisa dos EUA ganhou 3,9% frente o real.

 

No fim de 2009, analistas já previam um ano mais volátil para o câmbio, que sofreria o impacto do déficit maior em transações correntes, inflado pelo aumento das importações, da incerteza sobre a atuação do Fundo Soberano do Brasil na compra de dólares no mercado e da proximidade das eleições.

 

Real vs. exterior

Mas o real também foi vítima do fortalecimento do dólar no exterior, principalmente a partir da segunda semana do mês. O plano de Barack Obama para reformar o setor bancário, a questão fiscal da Grécia, o aperto monetário da China e a surpresa positiva com o crescimento dos Estados Unidos foram os principais fatores por trás da alta do dólar no mundo.

Em meio a tantas fontes de pressão, o dólar teve um comportamento praticamente unilateral, com alta em 17 das 20 sessões do mês. Além disso, por causa da atuação também de fatores internos, a alta de 8,1% no mês foi bem mais intensa do que a vista no exterior.

Em relação a uma cesta com as principais moedas, o dólar subiu cerca de 2% em janeiro. Moedas de perfil semelhante ao real também variaram menos, como o peso chileno, que desvalorizou-se cerca de 3%.

 

Novo patamar

Em vários momentos de janeiro, profissionais de mercado questionavam o fôlego da moeda norte-americana e previram ajustes de baixa. Na metade do mês, operadores chegaram a relatar alguma resistência por parte de agentes com posições vendidas em dólar, que perdem com a desvalorização do real.

Mas, após a demonstração de força do dólar, é impossível prever até onde esse ciclo de alta pode chegar, avalia Marcelo Portilho, estrategista da CM Capital Markets. "[Espero] bastante volatilidade. Dependendo do cenário externo, [o real] pode depreciar mais", disse.

Marcelo Oliveira, operador da corretora BGC Liquidez, diz acreditar que a taxa de câmbio esteja buscando novos patamares. "O mercado está de olho neste dólar a R$ 1,90 já faz alguns dias. Acredito que o fundamento do câmbio é esse."

De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, a mediana das projeções dos principais agentes de mercado ainda coloca o dólar a R$ 1,75 no fim do ano.

João Medeiros, diretor de câmbio da corretora Pioneer, aponta para a continuidade das compras diárias do Banco Central como uma demonstração de que o governo está confortável com a taxa de câmbio.

Em Davos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentou justamente que está "feliz" com a atual taxa de câmbio, embora em sua opinião ela ainda não tenha alcançado um equilíbrio. Mantega também não vê motivos para preocupação com o déficit em transações correntes.

Mas Medeiros já teme efeitos mais duradouros do cenário adverso no exterior sobre as contas brasileiras. "Não sei se ficaria tão fácil como o governo acha que é rolar US$ 40 bilhões (do déficit previsto pelo governo para 2010)".