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Entrevista

'Terminar o ano no azul é um sonho'

Economista afirma que organização das finanças de cada um faz bem para o país, além de diminuir riscos até com a saúde

O Ano novo já está "rodando". Vida nova? Muitas pessoas iniciam o ano prometendo mudanças nos hábitos. E o que não falta são promessas. Quanto a finanças pessoais, os últimos anos não foram nada bons e muitos iniciarão 2019 no vermelho.

Números recentes da SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) revelaram que inadimplentes deixaram de pagar pouco mais R$ 9 milhões em compras feitas no comércio varejista de Três Lagoas, com dívidas entre R$ 500 e R$ 3 mil.  No Brasil e o valor médio das pendências era de R$ 2,6 mil. E, agora, terminar 2019 no azul é o sonho de devedores. O economista e professor da UFMS em Três Lagoas, Marçal Rogério Rizzo, diz que é preciso ter organização das finanças pessoais para isso – tarefa árdua e complexa, porém necessária.

Jornal do Povo – Quais as consequências para quem fica no vermelho?

Marçal Rogério Rizzo – As implicações são muitas e depende de cada um. Há casos em que o devedor não se preocupa em estar inadimplente. No geral, apresentar o nome negativado já fecha portas para futuras compras parceladas e dificulta acesso ao crédito. A inadimplência pode se tornar motivo para preocupações e até mesmo depressão; casamentos e amizades podem acabar em virtude das finanças pessoais desequilibradas. Outro ponto é que a economia de país perde muito com as finanças pessoais desequilibradas porque tiram consumidores do mercado.  

JP – A saída é mudar hábitos?

Marçal – O ideal é conhecer o seu consumo, ou melhor, conhecendo onde gasta seu dinheiro. Isso é fundamental. Marcar todos os gastos traz resultados fantásticos, pois você pode analisar onde e como poderá realizar mudanças. Depois toda vez que for comprar algo faça as perguntas mágicas: Por que quero comprar isso? Realmente necessito? Eu posso comprar o que desejo? Tem que ser agora? O preço está justo? E, por fim, a principal pergunta: devo comprar?  

JP – Quais as dicas para quem está endividado?

Marçal – Primeiro, deve anotar quais são suas dívidas para que na maneira do possível possa eliminá-las.  Coloque as dívidas no papel juntamente e o valor dos juros de cada uma. Assim, poderá priorizar as que oferecem juros mais elevados.  Mais um ponto importante é examinar valores das dívidas parceladas e a vista. Conforme for conseguindo dinheiro sempre tente negociar melhores valores para suas dívidas. A negociação e o diálogo entre devedor e credor são ótimos caminhos. Evitar novas dividas também faz parte desse conjunto de ações para limpar o nome. 
 
JP – Qual seria outro ponto delicado para isso?

Marçal – Há vários pontos. O primeiro é estar atento para os pequenos gastos. Um navio pode ser afundado por pequenos furos em seu casco. Aqui é notar o que ando gastando que tem um pequeno valor que acredito que não esteja fazendo diferença, como a cervejinha a mais todo dia. Outro ponto são as compras parceladas.  Vale lembrar que parcelas vencem, tem que ser pagas. E volto a falar do uso do cartão de crédito. Esse vem desequilibrando a vida financeira de muitas pessoas. Compras no cartão de crédito também vencem e tem que ser pagas e o juros são estratosféricos para quem não paga em dia. Quem usa o cartão de crédito tem que estar atento para a data de vencimento da fatura. Jamais adie ou pague o mínimo. Hoje muitos estabelecimentos já adotam a política de preço menor para pagamento em dinheiro ou no cartão de débito, dessa forma não use o cartão de crédito e vale chorar por mais desconto. Agora caso já esteja pagando parcelado o cartão busque uma nova linha de credito como, por exemplo, empréstimo consignado, já que os juros são bem menores.

JP – E melhorar os ganhos? Não é saída?

Marçal – Um ponto que avalio ser importante é pensar sempre em  economizar e em como devo melhorar meus ganhos. Lembro que surpresas surgem na vida financeira da gente e para isso temos que ter reserva. Parte daquele dinheiro do 13º ou mesmo das férias, na medida do possível, deve ser guardada. Também há momentos em que nossas despesas aumentam, como na hora de pagar IPVA, IPTU, material escolar para os filhos, por exemplo. Por isso, falo em economizar pequenos valores, porque  sempre podemos otimizar o uso do dinheiro. Em casa, dá para economizar energia, água e até rever as compras de mercado. A organização financeira se faz cada vez mais necessária.