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Programa de inclusão digital do MEC não cumpriu metas, diz CGU

Controladoria estima que mais de 12 mil laboratórios não foram instalados

Uma avaliação dos laboratórios de inclusão digital entregues pelo Ministério da Educação entre 2007 e 2010 como parte do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo) mostrou que pelo menos 12 mil de 56 mil laboratórios foram entregues às escolas participantes, mas não chegaram a ser instalados e usados. A análise foi feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) e o relatório foi divulgado nesta semana.

De acordo com o documento, técnicos da CGU visitaram 196 laboratórios e realizaram uma projeção. "Podemos afirmar, com 95% de confiança, que dos 56.510  laboratórios da base de dados fornecida pela SEED [Secretaria de Educação a Distância do MEC, que foi incorporada a outra secretaria em 2011] no momento da aferição das equipes de auditoria da CGU, o número de laboratórios entregues, porém não instalados é superior a 12.610", diz trecho do relatório.
O Proinfo foi criado pelo MEC com o objetivo de promover o uso pedagógico da informática nas escolas públicas.


Segundo a CGU, o programa foi avaliado a partir de uma base de dados que inclui os laboratórios com entrega autorizada pelo MEC entre janeiro de 2007 e junho de 2010, totalizando 56.510 laboratórios (34.223 em escolas urbanas e 22.287 em escolas rurais). De 2007 a 2010, o governo investiu R$ 690,5 milhões no programa.


O relatório diz que o "número elevado" de laboratórios entregues, mas não instalados, ocorre tanto em escolas rurais como urbanas. "Nas rurais, esse número é de pelo menos 5.554 laboratórios, e nas urbanas é de pelo menos 7.056 laboratórios, portanto, indicando fragilidades na execução do programa."


O texto afirma ainda que 26.640 laboratórios estão funcionando nas condições adequadas e 4.280 estão sendo utilizados em ambientes onde falta segurança física. Em 15.345 laboratórios, a CGU aponta que um dos problemas do uso pedagógico dos computadores é a falta de preparação dos professores e técnicos.


Além disso, "pelo menos 2.880 laboratórios urbanos e 1.452 rurais (total de 4.332) são utilizados apenas para outras atividades que não aulas de matérias regulares ou de informática" e em 5.960 laboratórios "ocorre desvio de algum equipamento para atividades administrativas", segundo o relatório.


Recomendações
Segundo a CGU, a logística de entrega das máquinas pelas empresas contratadas foi "bastante positiva, considerando que quase a totalidade dos laboratórios foi entregue com as configurações iguais ou superiores às exigidas no edital". Por outro lado, o órgão constatou que a quantidade de laboratórios entregues e não instalados é "considerado relevante, o que afeta diretamente os objetivos" do programa.


"Nesse contexto, conclui-se que apesar dos avanços proporcionados pelo Proinfo na inclusão digital, a sua função precípua, o uso pedagógico da informática nas escolas públicas de educação básica não foi plenamente atingido, pois a utilização completa dos laboratórios, com a infraestrutura adequada e com profissionais devidamente capacitados, atendendo alunos e comunidade, encontra obstáculos relevantes", conclui o relatório.


Diante dessa projeção, a CGU afirmou no relatório que fez algumas recomendações ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), um dos executadores do programa. Uma delas é que o FNDE planeje o processo de distribuição de recursos tecnológicos instrucionais de forma que ele "tenha mecanismos efetivos de acompanhamento do uso dessas tecnologias pelos Entes conveniados" e "considerando, inclusive, a possibilidade de utilização de mecanismos de monitoramento remoto vinculados à rede de computadores".


FNDE diz que números são projeção
Em nota, o FNDE informou que são os estados e municípios participantes do Proinfo os responsáveis por garantir a infraestrutura e as condições adequadas para a instalação dos laboratórios e fomentar a capacitação dos professores para o uso pedagógico dos equipamentos. "O próprio relatório da CGU demonstra que as irregularidades apresentadas em sua auditoria estavam sobre a égide das autoridades estaduais e municipais responsáveis pelas escolas. Portanto, esses fatos devem ser verificados junto aos dirigentes estatuais e municipais", diz o texto.


O fundo disse ainda que os números do relatório são uma projeção, e que todas as 196 escolas visitadas pelos técnicos da CGU foram diligenciadas e seus problemas "em sua maioria estavam resolvidos quando da apresentação da CGU da auditoria aos gestores".


Além disso, o órgão afirmou que "aprimorou seu modelo de aquisição para o modelo do Registro de Preços Nacional, onde o FNDE, depois de aprovada as especificações técnicas em audiências públicas, com a participação da sociedade, dirigentes estaduais e municipais e fornecedores, executa um pregão com registro de preços, para que estados e municípios, diretamente por adesão, adquiram e se responsabilizem pela distribuição e instalação dos equipamentos, enquanto o FNDE faz a gestão quanto ao cumprimento do objetivo de se ter a escola atendida pela adesão feita".