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Autismo: uma batalha que vai além do diagnóstico

Em Três Lagoas, mais de mil famílias enfrentam o desafio diário do autismo, buscando por apoio e políticas públicas que garantam um futuro melhor

Associação promove  todos os anos caminhada para conscientizar sobre o Transtorno do Espectro Autista. - Foto: Arquivo/JPNews
Associação promove todos os anos caminhada para conscientizar sobre o Transtorno do Espectro Autista. - Foto: Arquivo/JPNews

Em Três Lagoas, município que cresce e se desenvolve, uma realidade silenciosa desafia centenas de famílias diariamente: o autismo. Segundo a Associação de Pais e Amigos dos Autistas de Três Lagoas (AMA), são 450 crianças e jovens autistas cadastrados, mas a estimativa é de que esse número ultrapasse mil. Entre as famílias predominam histórias de luta, resiliência e busca constante por políticas públicas que oferecem suporte real e eficaz.

Nadir Vilalva é coordenadora da Associação Estadual dos Pais e Responsáveis Organizados pelos Direitos das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (Prodetea-MS), e uma das fundadoras da AMA de Três Lagoas. Ela relata que a associação foi criada pela necessidade de amparo para crianças autistas e suas famílias. Nadir tem um filho adolescente que é autista, e sabe bem as dificuldades para lidar com a situação. “Muda tudo, toda a estrutura da família, muitas se desintegraram. Então, é preciso suporte. O autismo afeta todos ao redor e, através da AMA, encontramos um refúgio e uma rede de apoio mútuo”, explica.

Equoterapia ajuda no tratamento

Uma das conquistas da associação junto ao poder público foi a implementação do serviço de equoterapia. No entanto, o acesso ao tratamento ainda enfrenta barreiras, pois o número de vagas oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é bastante restrito, dificultando o atendimento a muitas famílias.

Atendimento de equoterapia é realizado no Sindicato Rural de Três Lagoas. Foto: Reprodução/TVC.

Atualmente, apenas 50 vagas são oferecidas gratuitamente, através de um convênio entre a prefeitura e uma empresa de Andradina (SP). As sessões são realizadas no Sindicato Rural de Três Lagoas, onde crianças e jovens com autismo e outras condições participam da terapia, que promove melhorias na coordenação motora, equilíbrio, autoestima e socialização.

A equoterapia é reconhecida por seus resultados positivos no desenvolvimento dos praticantes, mas o acesso limitado impede que esses benefícios sejam ampliados para um número maior de pessoas.

Famílias lutam por centro especializado 

Para Nadir, a falta de profissionais especializados é um dos maiores obstáculos. Terapias essenciais, como a ocupacional e a fonoaudiológica, são escassas na rede pública. Além disso, a ausência de uma clínica escola em Três Lagoas força mães e pais a um posicionamento exaustivo entre escolas, terapeutas e atendimentos pontuais. “Queremos um centro onde tudo acontece em um único local, minimizando o estresse e o cansaço daquelas mães que, muitas vezes, passam noites sem dormir”, destaca.

Nadir ressalta a necessidade de um centro especializado que ofereça tratamentos integrados e capacitação de profissionais. A ideia de uma clínica escolar, onde crianças e jovens recebem atendimento terapêutico e educacional especializado, é um sonho antigo. “Precisamos de terapeutas que conhecem o autismo, que entendem as deficiências sensoriais e de comunicação. Isso minimizaria o desgaste das famílias e proporcionaria um atendimento muito mais adequado”, argumenta.

Outro ponto crucial é o treinamento de profissionais da saúde e da educação. “Muitos professores e terapeutas não têm a formação necessária para lidar com as especificidades do autismo. Precisamos de capacitação contínua para que esses profissionais saibam como atuar de forma eficaz”, reforça Nadir.

Dificuldades

Sara Cândido é mãe de quatro filhos, sendo três autistas. Ela relata as dificuldades de sua rotina. “Eu tive que abrir mão da minha profissão para me dedicar aos meus filhos. Cada ida à escola é uma incerteza; posso ter que voltar em minutos se algo não estiver bem”, desabafa. 

Sara também destaca a luta constante pelo acesso a terapias adequadas e apoio escolar, muitas vezes só possível por meio de ações judiciais. Ela reforça a importância de uma clínica escolar que ofereça não apenas tratamento para as crianças, mas orientação para os pais e treinamento para as escolas. “É um sonho de muitos pais em Três Lagoas, ter um lugar onde nossos filhos possam receber o atendimento que precisam, sem ter que lutar a cada passo”, destaca.

Avanços e desafios

Embora algumas vitórias tenham sido alcançadas, como a contratação de profissionais para as escolas e o serviço de equoterapia, a realidade ainda está longe do ideal. A AMA e as famílias continuam lutando por mais avanços, como a ampliação do atendimento no sistema público de saúde e a inclusão de terapias alternativas no SUS. De acordo com a associação, a demora para conseguir atendimentos, exames e laudos afeta não apenas os autistas, mas também pessoas com outras deficiências.

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