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Opinião

A Psicologia na Copa do Mundo: Emoções, Desempenho e Vitória!

França, 1998, Copa do Mundo, Jogo Final: Brasil e França. Em uma partida polêmica, a equipe de Zagalo, após a suposta convulsão de Ronaldo, entra em campo insegura e desmotivada.  Resultado: França 3 x Brasil 0. Nesse dia, ocorreu um fenômeno infelizmente muito conhecido por jogadores e torcedores: o “amarelão”.  A equipe do Brasil “amarelou” na final, após uma campanha até então vitoriosa. O que aconteceu? O que explica esse desfecho que surpreendeu o mundo do futebol?

Relembrando Alexandre Popov, o nadador russo e campeão olímpico, que uma vez disse: “a cabeça precisa acreditar na força do corpo que ela mesma controla”!  Então, o segredo do desempenho esportivo, no futebol, natação e outras modalidades, estaria mais na mente do que no corpo?!  A resposta é exatamente essa!  E o modelo cognitivo de funcionamento humano explica porquê.

O modelo cognitivo propõe que não é uma situação que determina nossas emoções – motivação, tranqüilidade, segurança – e nossos comportamentos, incluindo o desempenho em esportes.  Mas, sim, a nossa forma de processar cognitivamente a situação de desafio.  Em outras palavras, nossa mente e nossa forma de pensar determinam se nossa real competência será materializada em nosso desempenho ou não!
Na Psicologia, nós inclusive nos referimos ao que se convencionou chamar de “profecia auto-realizante”. O que isso significa?  Que, diante de uma situação de desafio, se o atleta pensar “serei capaz de vencer”, esse pensamento resultará em tranqüilidade e confiança, que possibilitarão ao atleta colocar toda a sua competência no seu desempenho.  Se, ao contrário, ele pensar “será que posso vencer?” ou até “não serei capaz de vencer” , esse pensamento resultará em ansiedade e insegurança, que interferirão com a expressão máxima de sua competência e com o seu melhor desempenho.

Houve um experimento interessante conduzido com nadadores olímpicos.  Primeiramente, identificou-se, através de um questionário aos nadadores otimistas (que, diante de uma prova, tendiam a pensar positivamente) e aos pessimistas (que tendiam a prever seu desempenho negativamente).  Segundo, a ambos os grupos foi dada a instrução de nadar tentando fazer o seu melhor tempo.  Ao sair da piscina, todos receberam o mesmo feedback: “não fez um bom tempo; volte à piscina e melhore seu tempo”.

Resultado: os otimistas, na segunda tentativa, melhoravam seu tempo; enquanto que os pessimistas, na segunda tentativa, pioravam seu tempo.  Em outras palavras, as “previsões” de ambos os grupos se realizavam na segunda tentativa: tanto as previsões dos otimistas (“vou melhorar meu tempo”), quanto as previsões dos pessimistas (“será que vou conseguir?” ou simplesmente “não vou conseguir”)!  Isso nos lembra ainda a conhecida parábola das rãs: na corrida para chegar a uma alta torre, todas as rãs ouviram do público presente: “essa prova é muito difícil, coitadas, vocês não vão conseguir”.  Efetivamente, apenas uma consegue chegar ao alto da torre:  a rã que era surda!

E o que determina que, diante de um desafio, um grupo pense “vou vencer” e outro grupo pense “não vou vencer”?  São suas experiências relevantes de vida até aquele momento, especialmente suas formas habituais de explicar eventos de sucesso e fracasso.  Dizemos que desenvolvemos, ao longo da vida, esquemas cognitivos, que nos permitem processar o real.  Chegamos à vida adulta, com uma matriz de esquemas, que poderíamos chamar de nosso “software”. 

Agora a pergunta crítica: esse “software” pode ser mudado?  Sim, a qualquer momento!  Através de um trabalho de Coaching Cognitivo, uma modalidade de intervenção cognitiva que desponta e que se comprova rápida eficaz.  Com a ajuda de um coach cognitivo competente, atletas podem otimizar suas formas de processar o momento a momento de uma prova, a fim de manter sua motivação e auto-confiança, bem como a confiança na força da equipe, durante todo um jogo ou uma pr ova.  E, dessa forma, garantir seu máximo desempenho!  Esses atletas tenderão a pensar, diante de uma vitória: “jogamos bem contra essa equipe, jogaremos igualmente bem contra a próxima equipe, e nosso talento se comprovará nos próximos jogos”. E como pensarão diante de uma derrota?  “Perdemos, mas jogamos bem; identificaremos nossas falhas, superaremos as falhas nos próximos treinos, e jogaremos melhor contra a próxima equipe; e nosso talento voltará a se manifestar nos próximos jogos”! 

Dessa forma, o Brasil se livraria do “amarelão” que historicamente parece atacar atletas brasileiros nas finais das competições de várias modalidades esportivas!
 
Ana Maria Serra é PhD em Psicologia