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Opinião

As Rodovias

Existe um ditado que diz que “alguém tem que pagar a conta”. Por algum momento, acreditamos que o governo banca nossos excessos, paga o salário de pessoas que querem trabalhar pouco e se responsabiliza por crises que aparecem de ultramar; por outro, chegamos a conclusões precipitadas de que o governo não tem que se meter, assim que diminua os impostos e cada indivíduo financie suas idiossincrasias. O jogo tem rebolado entre oito e oitenta, ou seja, extremos que não se bicam.
O episódio de hoje – parece continuação de uma história mal contada – é sobre a sensação de que estamos pagando a conta de outro quando se enfrenta o número crescente de cabines de pedágio nas rodovias brasileiras. Em cada uma que aparece, recebemos uma punhalada que nos obriga a aceitar e lamentar ao mesmo tempo. As rodovias também entraram para a dança das privatizações que nossos governantes estimularam na década de 90, entregando até o que dava lucro para a iniciativa privada. Mal maior poucas vezes se cometeu.
Explico por quê. No estado de São Paulo, onde se rifam rodovias estaduais e federais como se fossem picolés, elas são mais preservadas e seguras de modo geral que em outros estados. Porém, em várias concessões, houve pouco investimento dos atuais empresários do asfalto sobre o que foi entregue pelo governo, as tarifas sobem desproporcionalmente ao aumento de salários, e os lucros que vêm depois da recuperação dos investimentos não retornam em serviço público senão no bolso de quem sabe quem.
Sei que tem gente que não se importa com o valor dos pedágios, enquanto outros deixam de viajar por causa disso. Não quero relativizar o que as tarifas representam para cada classe social ou consumidor senão escarafunchar medidas que visam ao interesse de todos. A impressão que tenho quando vejo essa expansão da quantidade de pedágios é a de que nos estão ilhando em vez de integrar as cidades, as regiões e os estados porque a melhora da qualidade das rodovias não significa que o brasileiro viaje mais.
Cobro maior transparência dessas transações econômicas realizadas pelo governo com as concessionárias de serviços rodoviários. Este setor não tem como obedecer às leis de livre mercado porque acaba por coibir a existência de vias alternativas, como é o caso da Anchieta-Imigrantes, que interliga a cidade de São Paulo com o litoral paulista. Não restou saída para os que quiserem pegar a Anchieta como acesso público, pois esta foi vendida no mesmo prato.
É lamentável o estado em que se encontram trechos de rodovias estaduais e federais, que transformam a viagem numa aventura. É por isso que muitos preferem pagar pedágios para trafegar em rodovias conservadas e seguras. Nestas condições de emergência e incapacidade de ubiquidade governamental, sugiro que se instaure o mecanismo de empresas públicas que definam os preços de pedágio conforme a relação entre fluxo de veículos e gastos com manutenção da pista.
Assim pagaríamos o que vale. E com critérios de transparência.


Bruno Peron Loureiro é analista de desenvolvimento e relações internacionais