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Bons ventos podem trazer energia

Para manter sua liderança na corrida por energias sustentáveis, precisamos derrubar alguns mitos. A conclusão não é minha. Nem a frase, que deve ser atribuída à colunista especializada em energia Andréa Vialli, que escreve no jornal O Estado de São Paulo e mantém um blog na internet.

E quais mitos o Brasil precisaria derrubar para manter o primeiro lugar na relação dos países que procuram alternativas energéticas ? Além de investir na geração de biocombustíveis, como o etanol e a celulose, o governo deveria fomentar as cadeias de produção de energia nuclear e eólica.

É o que se conclui da leitura do estudo Energy Shift (Virada energética, em tradução livre), da consultoria Booz & Company, que traça um panorama do cenário energético do planeta até 2030. Nesse cenário, está previsto que combustíveis fósseis — em especial petróleo e carvão — perderão espaço, assim como o gás natural, que é muito menos poluente. Mas não deixarão de ser fundamentais durante várias décadas.

No entanto, as pressões cada vez maiores que buscam a diminuição de gases de efeito estufa vão exigir de governos e empresas a combinação dessas fontes com outras. Apesar da polêmica envolvendo a questão do lixo radioativo, energia nuclear entra nessa mistura por ser livre da emissão de CO2.

O estudo a que me refiro recomenda que o Brasil, mesmo muito bem situado no quesito de matrizes energéticas limpas, com 46% de fontes renováveis graças às hidrelétricas, ao etanol e à tecnologia dos carros flex, não poderá prescindir de outras cadeias produtivas. E a pesquisa da Booz & Company aponta na direção da energia eólica, produzida pelo vento. O bom e antigo moinho de vento adaptado.

Já existem, inclusive, avaliações sobre o gigantesco potencial eólico do país. Seriam cerca de 143.400 MW. Graças ao Proinfa (programa de incentivo às fontes alternativas de energia elétrica), entre 2003 e 2007, a capacidade instalada para aproveitamento da energia eólica passou de 25,1 MW para 243,5 MW. Um crescimento exponencial de 870%. Ainda assim quase insignificante se comparado com outras regiões.

Na Europa, onde a energia eólica já não é novidade há várias décadas, por exemplo, cresceu 57% no período. Os Estados Unidos, onde também se utiliza a força dos ventos há bastante tempo, deram um salto de 219%. Na Ásia, onde a energia eólica só agora ganha impulso, o aumento foi de 607% no mesmo período. O principal argumento usado para justificar o nosso incipiente desenvolvimento seria que o custo médio de geração é ainda superior ao de outras fontes.

Em compensação, são várias as vantagens da utilização da energia eólica. Além da redução na emissão de gases de efeito estufa, é preciso não esquecer que a nossa matriz energética é assentada basicamente na hidroletricidade e que a água já é recurso escasso em várias regiões do mundo.

Um dos motivos reais para a estagnação do desenvolvimento eólico nacional foi o fato de termos promovido até hoje somente uma chamada pública para o Proinfa. Nessa chamada, a exigência de um alto nível de nacionalização dos equipamentos e um ambiente regulatório em alteração desestimularam a formação de uma base industrial sólida para possibilitar a redução nos custos dos equipamentos.

Mesmo assim, o interesse no desenvolvimento dessa fonte de energia tem sido manifesto. Basta dizer que existem registrados na Aneel mais de 5.000 MW em projetos. O desenvolvimento da geração eólica no Brasil, de modo a aumentar sua participação na nossa matriz energética — hoje de apenas 0,02 % — depende de definição estratégica do governo.

Com a realização de leilões anuais específicos para a contratação de volumes significativos de energia eólica, e contratos de longo prazo, e com preços-teto atraentes poderemos reduzir drasticamente os custos, sinalizando aos fabricantes como GE, Siemens, Altson, Weg, que vale a pena investir em fábricas de aerogeradores no país.

Finalmente, com a implementação de um programa prioritário de energia eólica, além do domínio da tecnologia do carro flex, o Brasil poderia deter também o domínio de outras tecnologias que garantiriam modicidade tarifária e segurança no suprimento. Vale registrar que, segundo estudo do Sistema Interligado Nacional realizado pelo Departamento de Estudos Energéticos da Eletrobrás existe, no Brasil, complementaridade entre os regimes hidrológicos e eólicos, o que preservaria os atuais níveis de armazenamento.

Delcídio do Amaral (PT) é senador de Mato Grosso do Sul