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Como a crise afeta as pessoas

A crise econômica que assola o mundo teve efeitos de ciclone nos EUA e balança a Europa. No Brasil o fenômeno está aparecendo, mas, felizmente, não de modo tão arrebatador. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que há um pânico geral nos mercados e que isso pode se transformar num efeito de manada. O que se tem noticiado sobre essa crise diz respeito a bancos que se fundem ou se afundam quebrados, bolsas em queda livre, empresas que perdem, da noite para o dia grande parte de seu valor, governos abrindo os cofres para socorrer seus mercados da iminente desordem, crédito escasso, etc. Mas, afinal, quem faz tudo isso acontecer?

O mesmo princípio que tira o sono de uma pessoa que aplicou suas economias na bolsa e agora não dorme e vive à beira de um ataque de nervos, diante do pânico do qual falou Mantega. Ou seja, gente. Seres humanos como eu e você, que sente emoções e alimentam sonhos e ambicionam dias melhores para curtir a vida.

Governos, bancos, bolsas e empresas são organizações criadas e geridas por pessoas. Um banco, um governo, uma empresa ou uma bolsa não tem emoção, nem entra em pânico. Mas seus gestores sim. Daí que o mercado pode sentir e gerar pânico, bem como demandar em manada para vender ou para comprar determinados títulos. Alguns ganham e muitos perdem nesse movimento. Até aí nada de excepcional.

A excepcionalidade está no elemento que separa uns dos outros, perdedores e ganhadores: o ponto de equilíbrio ou, como diria Darwin, capacidade adaptativa. Esse ponto de equilíbrio nem sempre pertence àquele que detém o maior conhecimento sobre mercados. Mas sim ao que possui o controle sobre suas próprias emoções. Uma pessoa afetada emocionalmente pode fazer parte da manada e correr em estouro para o despenhadeiro ou mesmo ser pisoteada no trajeto, vítima de seu próprio desespero. O conhecimento, a informação são subordinados às emoções e estas permitem que se aplique aqueles na construção de resultados. Perder é um resultado, tão quanto ganhar o é. A diferença entre os dois resultados pode ser vista de duas maneiras, no rosto das pessoas, o que é mais visível, ou em suas contas bancárias.

A diferença entre o ganhar e perder é um excelente modo de percebermos o quanto são importantes as pessoas dentro das organizações, um comportamento destrutivo ou desequilibrado de um ou de uns pode colocar em risco a vida de muitos. O pânico de um investidor pode estar em perder o seu capital, mas as conseqüências de tudo isso pode representar o medo de milhares de pessoas diante da iminente perda de seus empregos. O efeito cascata que pode ocorrer e levar o mundo a uma recessão é fruto de emoções negativas cujo fim poderá ser uma depressão global.

A crise afeta as pessoas e essas afetam as organizações. O que significa que para se ter uma organização equilibrada faz-se necessário que se tenham pessoas equilibradas emocional e, claro, racionalmente. Uma boa forma de investimento é consolidar esforços que fortaleçam sua capacidade emocional e lhe permitam continuar firme, mesmo em ambientes nervosos, como um mercado a beira do pânico.

Aguilar Pinheiro, consultor de empresas