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Compromisso social de dom Izidoro

A vinda do Bispo D. Izidoro Kosinski em 1981 para assumir a condução pastoral da diocese de Três Lagoas coincide com a criação da CPT na diocese. Preocupado em dinamizar a Pastoral na Diocese convida pessoas do Rio Grande do Sul e pessoas da Diocese para formar a equipe de CPT diocesana. Esta equipe de agentes inicia o trabalho dando assistência pastoral aos ribeirinhos do Rio Paraná e ao mesmo tempo atuam na organização dos Sem Terra da Região. Em 1983 quando ocorre a grande enchente do rio Paraná a CPT sob a orientação do bispo Dom Izidoro direciona os trabalhos na defesa das reivindicações dos flagelados, que também eram atingidos pela construção da barragem de Porto Primavera  Concomitantemente à organização dos Sem Terra se iniciava a fundação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais da Região do Bolsão com o apoio irrestrito de Dom Isidoro. Filho de pequenos agricultores paranaenses  indignava-se com a enorme concentração de terras no Estado de Mato Grosso do Sul  enquanto milhares de sem terra da região do Bolsão não conseguiam um pedaço de terra para poder plantar e alimentar sua família. Por isso não apenas apoiou verbalmente a luta pela terra como deu o exemplo documentando as terras de propriedade da diocese que estavam ocupadas por famílias sem moradia e trabalhadores rurais da Véstia no município de Selviria, da Vila São Pedro em Inocência, da atual Vila Evaldo em Tres Lagoas, entre outros. Para dinamizar ainda mais os trabalhos pastorais na área social, em 1983 convida o IAJES de Andradina para abrir uma frente de trabalho da Pastoral Social na Diocese de Três Lagoas.
Tanto a equipe da Pastoral Social como a equipe da CPT durante os dez anos que desenvolveram suas atividades na Diocese sempre receberam o apoio  do Bispo d. Izidoro e de alguns padres e religiosas, fazendo, inclusive,  parte das  prioridades dos Planos Pastorais da Diocese. Porém a elite da cidade se posicionou radicalmente contrária à linha de pastoral adotada pela diocese servindo-se dos meios de comunicação social local (imprensa escrita e falada) para agredir verbalmente tanto os agentes de pastoral  quanto ao próprio bispo dom Izidoro. A folha de Três Lagoas de 17 de junho de 1986, por ocasião do acampamento na praça da Catedral organizado pelos sem terra despejados da fazenda Água Limpa afirma que “Ninguém viu o bispo d. Izidoro, ele é como um pária, um mafioso que manda sua gang, sua corja de safados agitar e desaparece. O templo mais imponente e mais importante da fé católica foi blasfemado”, referindo-se ao templo de tijolos.
Neste período a diocese de Três Lagoas era reconhecida no estado de Mato Grosso do Sul e em âmbito nacional como uma diocese que tinha uma atuação pastoral muito avançada e respeitada, principalmente por suas posições em defesa da luta dos Sem Terra. Esta prática pastoral provocou a ira continuada das elites latifundiárias da região do bolsão e principalmente de Três Lagoas. A perseguição aos agentes da Pastoral da Terra, aos agentes da Pastoral Social e ao bispo diocesano era constante. O próprio d. Izidoro sofreu agressões físicas na sua própria residência, sendo levado em estado de coma para o Hospital local. Devido ao fato do bispo ter adotado esta linha de pastoral na Diocese, os padres pressionam o bispo diocesano para acabar com a Pastoral da Terra e a Pastoral Social, caso contrário eles abandonariam a diocese.
  É por tudo isso que Dom Izidoro Kosinki será  sempre lembrado, não apenas por ter vivido na simplicidade, na humildade e na pobreza, mas principalmente pelo compromisso social testemunhado em favor dos pobres e especialmente em favor dos pobres do campo. É assim que nós da CPT/MS o reconhecemos.

Mieceslau Kudlavicz CPT/MS e mestrando  em Geografia pela UFMS