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Discursos de proveta

Era uma frase, a transformaram em dogma: “o parlamento atual é sempre pior que o anterior”. A decadência política no Brasil é tão grande que vamos perdendo o senso da representatividade, da cobrança natural aos nossos políticos, da importância de nosso voto. Este é um processo calado que vai nos distanciando da consciência cívica, da busca por nosso futuro sonhado, e nos dando um presente de indiferença, desesperança, prostração e alienação. A política nacional se tornou isso, um processo de indicação e não de aclamação dessa ou daquela proposta, desse ou daquele candidato. Tudo tão insípido, tão descaracterizado, dissimulado, que não nos mobiliza para o mais banal debate. É um tempo de poucas idéias e quase nenhuma motivação.
A degeneração política nacional nos levou a isso. Hoje, o cargo nobre de um presidente da República, que deveria ser o coroamento de uma história e exemplo de vida, de anos de lutas e batalhas, pode ser preenchido por qualquer um indicado, como que se a decisão de toda uma nação, de um povo, coubesse a apenas um e a chancela de meia dúzia de apaniguados. Tudo muito medieval, primário, na base de escolhidos e endeusados. Esse é o Brasil real, um país prostrado, rendido, vencido e calado.
As próximas eleições serão disputadas por grupos, verbas, marqueteiros e conglomerados midiáticos. Uma mega produção, com direito a efeitos especiais de toda ordem, com capítulos de dossiês, mensalões e aparamentadas operações. De ideologias e idéias, nada, ou quase nada. Qual o discurso do candidato Serra à presidência da República? Qual o seu projeto de governo para o Brasil? E da candidata Dilma? Eu que nunca a vi sozinha em um palanque sequer, nunca a vi solta, cara a cara com o povo! Como votarei em algo que não conheço? Que democracia é essa que nasce nos gabinetes, passa pelo grande empresariado e vai acabar nos banquetes privados dos suntuosos Palácios? E o contato com o povo, o debate franco e aberto, a campanha cruzando as ruas e as cidades, realizando as grandes mobilizações? Ao que se constata, nada, nada do que está além do poder central e centralizador importa, tem importância. Esse é o Brasil pelego, a república dos companheiros. Foi por essa democracia que eles tanto lutaram?
Lamentavelmente, as próximas eleições serão as da falta de carisma, da construção de falsas cortesias de inventados candidatos. Eles trazem sempre o mofo dos gabinetes e quase nunca o cheiro de povo, das ruas, a centelha de uma idéia, de um ideal. Espontaneidade nenhuma, marketing de sobra. Espirituosidade nenhuma, sorrisos maquiados de graça.
É um tempo de sombras, um tempo climatizado, artificial, inventado, em que não se floresce o sonho e nem a esperança!  
 
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor –
www.petroniosouzagoncalves.blogspot.com