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EDITORIAL: O custo da inércia

No mês passado, a chefe do Imasul alertou que o município não havia, até aquele momento, entregue um único projeto ambiental

A lentidão com que decisões são tomadas no setor público são responsáveis, muitas vezes, por criar a geração desnecessária de custos ou, não tão raro, a perda de recursos. Neste ponto, as administrações públicas, em todas as esferas têm muito a aprender com o setor privado.

Este caso não é diferente de Três Lagoas. Aliás, por aqui parece regra. O município, que foi agraciado em um momento de recessão no restante do país, pela ampliação de três grandes indústrias que irão mexer com o Produto Interno Bruto (PIB) nacional e salvar a econômica local da atual estagnação. Trata-se da Fibria, Eldorado e Cargill, que, além dos impactos sociais positivos, vão gerar mais de R$ 42,7 milhões em recursos de compensação dos impactos ambientais decorrentes do processo de ampliação dessas grandes indústrias. Basicamente, o valor da compensação é decidido em uma conta simples: 0,7% o total do investimento. No caso da Eldorado Brasil serão R$ 21 milhões em compensação ambiental. Na Fibria, outros R$ 20 milhões, e, com a ampliação da unidade da Cargill, soma-se a esse montante outros R$ 1,7 milhão.

No entanto, Três Lagoas pode não ver a cor desse dinheiro ou os benefícios que ele traria para a preservação ambiental do município. Por regra, os recursos de compensação ambiental são depositados na conta do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul), ligado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente. O Imasul, por sua vez, busca priorizar os investimentos para as regiões afetadas pelas obras. No entanto, para que isso ocorra, precisa receber projetos e analisa-los para deliberar sobre a aplicação da medida mitigatória.

No mês passado, a chefe do Imasul, Délia Villa Mayor Javorka, já havia alertado que o município não havia, até aquele momento, entregue um único projeto ambiental para que este recurso aqui permaneça. Praticamente um mês depois, nada parece ter mudado.

O assunto só voltou à tona através do deputado estadual, Ângelo Guerreiro (PSDB). O mais forte candidato dos tucanos para disputar a Prefeitura de Três Lagoas em 2016, que  encaminhou solicitação ao governo do Estado para que o recursos das compensações ambientais permaneçam em Três Lagoas.

Porém, mais uma vez, para que isso aconteça se faz necessário a elaboração de projetos que definam  quanto e onde os recursos serão aplicados.  A falta de planejamento parece ser a moléstia que mais ataca o Brasil e o impede de crescer, assim como em Três Lagoas. Passou da hora de enterrarmos duas frases muito usadas: as “O jeitinho brasileiro” e “brasileiro deixa tudo para a última hora”.  Por incrível que pareça, essas frases, ainda hoje, são ditas com certo orgulho ou, no mínimo com ironia pelos que invariavelmente não observam as regras mínimas de planejamento para a realização de ações de qualquer natureza. Essa é a tônica dos sempre estão atrasados    

O brasileiro de Três Lagoas  precisa parar de deixar tudo para última hora. A história já nos ensinou que essa (falta de) metodologia acarreta sérios prejuízos e projetos acabam sendo executados pela  metade, quando não abandonados por completo, ou senão , quando concluídos, custam valores que chegam a quadruplicar do projeto inicial. A Copa do Mundo é exemplo típico? Muitos dos seus, principalmente os  projetos de infraestrutura ainda não foram concluídos e nem serão. O aeroporto de Brasília é um dos exemplos que só teve as obras concluídas depois do mundial sediado no Brasil.

No caso de Três Lagoas, o que mais preocupa é que há áreas para que esses recursos seja m aplicados.  O município conta com três parques naturais, Jupiá, das Capivaras e do Pombo, este último, um dos maiores do Estado, foi criado com recursos de R$ 22 milhões de compensação ambiental quando na construção da fábrica da Eldorado e também início das obras da fábrica de fertilizantes nitrogenados da Petrobras. Além disso, existe a discussão para tentar transformar  lagoas que emprestam o nome à cidade em monumento natural  para preservação ambiental.

Com recursos como estes, muito poderia ser feito para a preservação da fauna e da flora regional. Além da execução de projetos  em consequência da criação de áreas de preservação ambiental, onde novos espaços de lazer para a população poderiam ser criados.  No passado, houve uma tentativa de abrir o parque de Jupiá para visitação. Um projeto chegou a ser iniciado, ainda na administração do prefeito Issan Fares, mas não prosperou. Agora, com mais recursos, seria a hora certa de Três Lagoas  se destacar na preservação ambiental integrando o binômio educação e lazer.  É inadmissível,  deixar passar este momento de elaboração de projetos e perdermos a oportunidade. E pior, perdermos, o município, esse montante milionário pago por empresas à titulo de mitigação ambiental, e vermos esse dinheiro todo ser aplicados em outros municípios do Estado. Se isso acontecer será imperdoável ato de descaso administrativo, que preferimos imaginar  estar longe  há milhares de léguas. Três Lagoas não pode perder esses recursos pela inércia administrativa.