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Opinião

Editorial: Uma política sem qualidade

O Brasil é, hoje, um cenário completo de escândalos, com nomes antes respeitados e laureados metidos em suspeitas de roubo, corrupção e desmandos

Um mínimo de qualidade, competência e respeito com o eleitor o que se espera de qualquer pessoa investida em mandato popular. Pouca coisa mais do que estes três quesitos é o que o eleitor brasileiro mais espera da classe política. Não se trata do resultado de uma pesquisa científica e nem de tese. É uma constatação simplificada, mas consistente sobre os anseios do brasileiro sobre os governantes em todos os níveis. E não é de hoje. 

Querer que políticos desempenhem suas funções observando regras da ética, da moral e da competência é o mínimo que se espera. Chega a ser um sonho para quem acredita em promessas, vota e fica esperando ano após ano pela mudança de conduta dos eleitos e o atendimento às reivindicações da sociedade, pelos direitos de cidadão e a garantia de retorno dos impostos pesados que se recolhe mensalmente no caso do empresariado e de quem por determinação legal tem descontado no holerite.  

Não é à toa, que uma boa parcela de eleitores defendam políticos com uma formação acadêmica para o exercício de cargos públicos. Contra essa preferência, pesam alegações dos que apontam a pré-seleção como discriminação a exigência de um diploma superior, uma vez que em um país com as peculiaridades do nosso torna-se quase impossível essa pretensão. 

Mas, é exatamente sobre o quesito educação que ocorre a maior falha na falta de qualidade da classe política. Apesar de ser constitucional, o gasto de um quarto de toda a receita pública em ensino parece não ser suficiente. E, mantendo a população sempre com baixos níveis de formação – resultado de uma escola arruinada por inúmeros fatores – é que políticos se elegem e se reelegem sem fazer nada mais do que  aliciar de maneira reprovável votos em véspera de eleições.

E, apesar de ser vontade da gente brasileira de que a política seja uma atividade qualificada no país, o eleitor de baixa escolaridade ainda negocia seu voto em troca de uma cesta básica ou de “cinquentão”, como se costuma dizer. Este mesmo eleitor é o que também reclama da falta de hospitais e postinhos de saúde e das deficiências em seus atendimentos, da falta de opções de lazer e cultura, além da baixa qualidade do ensino, principalmente nos dois primeiros graus de formação escolar.  O contrassenso é flagrante. 

Mas, não é culpa somente do eleitor. Esta incoerência é alimentada pela estrutura apodrecida, de um sistema que não permite a aculturação das pessoas, eleitores, cidadãos que saberiam dar valor ao voto. 

Em poucos meses, e, sob novas regras, candidatos a prefeito, a vice e a vereador voltarão a fazer parte do cotidiano, do cenário de todas as cidades do país em eleição prevista para o ano que vem. A cada dois anos o Brasil vai às urnas. Novamente, opositores apontarão falhas e apresentarão soluções. A situação afinará o discurso para garantir ao eleitor que tudo será novo e diferente no mandato seguinte. E daí?

A falta de qualificação de políticos e da elevação de nível da atuação política, além da esperteza acentuada e de más-intenções de boa parte dos governantes, seguem ano após ano produzindo escândalos. O Brasil é, hoje, um cenário completo de escândalos, com nomes antes respeitados e laureados metidos em suspeitas de roubo, corrupção e desmandos. 

Triste é saber que boa parte destes vão prosseguir quase incólumes em seus cargos – como hoje acontece com boa parte da classe – e outros tantos serão reeleitos em 2016. Projetos, leis e indicações que votam em Câmaras Municipais, Assembleias e no Congresso Nacional são dignos de vergonha em muitos casos. E os escândalos que se envolvem, em troca de propina, jogam holofote sobre a má-fé que cerca a “profissão” de ser político.

A falta de programas específicos e perenes para a educação, que poderiam dar mais qualificação ao cidadão é a raiz deste problema. Sem saber absolutamente escolher seus eleitos e cobrá-los sobre o que fazem e o que deixam de fazer, tudo deve continuar como está.