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Editorial

Em quem acreditar?

Dilma prestou depoimento por escrito à Justiça Federal sobre os fatos investigados na Operação Zelotes

A presidente Dilma Rousseff prestou depoimento por escrito, nesta semana, à Justiça Federal, sobre os fatos investigados na Operação Zelotes, relacionados à suposta “compra” de medidas provisórias durante os governos dela e do ex-presidente Lula. Como previsível, disse que vetou os artigos que contrariavam os interesses do país, para em seguida colocar em prática  um aprendizado com o antecessor, e que se tornou resposta recorrente sempre que o assunto é ligado à corrupção, escândalos. Não sei e não viu, não sabia… e  por vai.

Lula é oficialmente investigado pelo menos em dois casos que envolvem empreiteiras atoladas em denúncias, envolvidas nos esquemas de corrupção na Petrobras e em outros setores da administração pública. Também nega tudo. 

Empreiteiros de grosso calibre seguem nas manchetes de jornal, a cada aparição com uma nova revelação de que pagaram propina a este ou aquele político. Os valores da criminalidade instituída são sempre altíssimos, como um que o disse, nesta semana, ter metido R$ 1 milhão na conta de José Dirceu. Mais um milhão. E de milhões em milhões saquearam bilhões e bilhões da gente brasileira. 

O ex-ministro da Casa Civil de Lula, Zé Dirceu,  prestou novo depoimento à Justiça Federal e, como na escola do companheiro, negou tudo. Disse até que passa por dificuldades financeiras porque teve as contas bancárias bloqueadas. Disse mais: que gostaria de estar pagando impostos.

Na linha do não sabe nada, Delcídio do Amaral se diz vítima de armadilha do filho de Nestor Cerveró, para ser gravado oferecendo estratégias e garantias para o ex-diretor da área internacional da Petrobras sair do Brasil e se esconder na Espanha, sem ser notado pela Polícia Federal.

Ainda na repetição de argumentos, Eduardo Cunha revela que vai atrás da Corte Européia dos Direitos Humanos denunciar o Brasil por perseguição política protagonizada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na petição, Cunha promete constar que Janot “perpetra uma perseguição digna de cavaleiros medievais”, segundo seus interlocutores mais próximos. 

Estreando no cenário do caso Cunha, o deputado federal Carlos Marun – entrevistado da coluna Persona desta edição – não deixou por menos e conquistou papel principal na reversão de todo o processo que poderia por o presidente da Câmara dos Deputados fora da presidência da Câmara dos Deputados – o terceiro cargo na hierarquia da substituição presidencial, e quiçá do exercício do mandato.  Começou o ano legislativo e tudo voltou à estaca zero com a atuação de Marun no processo no caso do deputado Cunha.

Na outra ponta, o juiz federal Sérgio Moro se segura na função de tocar o processo mais complexo de apuração de corrupção no país. O andamento das investigações revelam, até agora, que Moro, os desembargadores que o cercam e a Polícia Federal estão no caminho certo. 

Moro conta com a retaguarda de boa parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal – exceto os que teimam em postergar a poda de corruptos da vida pública nacional e a declaração de inidoneidade de empresas – entre elas, a própria Petrobras, nos períodos de governos petistas. 

Lula e Dilma, contudo, afirmam não têm nada a ver com a corrupção na estatal. No caso de Lula, nada também tem a ver com o Bancoop e nem na reforma do sítio no interior de São Paulo.

Até que se prove o contrário, ele e Dilma não estão condenados. Como cidadãos, têm direito à defesa e, mesmo que não desfrutassem do status que possuem, podem se defender até a última instância. Lula tem seus argumentos e, até hoje, safou-se como mestre de todas as acusações. Também fez papel de santo imaculado, senhor de toda honra, o mais honesto da face da terra. 

Em quem o cidadão deve acreditar? Em quem acusa, em quem revela, em quem prova ou nos que constitucionalmente se defendem e se valem dos próprios depoimentos para se inocentarem? Estes acontecimentos que se apuram evidenciam que o país desandou  do caminho da ética e da moralidade. Aos cidadãos, simples mortais, restam reprovar e nas urnas darem um basta a participação dos aproveitadores da coisa pública. Por isso, é papel da Justiça apurar, provar e, se for o caso, punir com severidade.