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Opinião

Emprego versus empregabilidade

Em setembro de 2008, os paradigmas do mercado financeiro se romperam e a imposição do novo tornou-se a determinante que definirá as economias vencedoras deste século. O desafio que se coloca é esquecer o passado recente, caso estejamos dispostos a agir proativamente frente ao atual cenário. Deixem de lado as estatísticas dos “últimos doze meses”. Foquem os novos produtos e segmentos de clientes. A necessidade de mudança é o grande desafio a cada manhã. Os negócios e as oportunidades precisam ser repensados, assim como cada país, cada sociedade, cada economia. Precisamos reencontrar nossas raízes e recriar uma identidade nos preparando para um diferente futuro. Sim, precisamos lançar as bases de algo inusitado, diferente de como imaginávamos que seria este e os próximos anos de nossas vidas.
O emprego é a maior preocupação. Sua existência está vinculada à de um mercado que consuma o que se produz. Mercadoria parada vira estoque e tem custo financeiro médio próximo a 60% ao ano. Sobre o bem produzido, comercializado ou não, cabem quase 40% sob a forma de impostos. Portanto, se você produzir além do consumo, o banco e o governo apropriam-se do capital de giro da empresa. Por isto, junto com os sindicatos, eles não querem que você pare de produzir.
Existe uma falsa percepção de que o empresário demite como parte de um oportunismo predador, mas é preciso lembrar que, ao dispensar um trabalhador, a empresa perde os investimentos em treinamento e recua na meta de criar uma cultura organizacional e espírito de equipe, que custa muito tempo e dinheiro. Ex-funcionários levam conhecimento de processos de produção, detalhes de negociação, estratégias de mercado, política de preços, rede de relacionamento com clientes. Há, ainda, os custos trabalhistas. Ou seja, a ninguém interessa desfazer-se de seu quadro funcional.
A popularidade de um governo sustenta-se sobre resultados concretos. Alimentar o marketing econômico é estimular os sonhos e em longo prazo não conduz a maior empregabilidade. O cenário econômico degrada-se diariamente, o que tem levado governo, sindicatos e empresas ao enfrentamento crescente. Empregabilidade representa a capacidade de um país de manter sua população ocupada e produtiva. Nos últimos 20 anos não exercitamos de modo sistemático o planejamento de longo prazo. Ao invés disto, nossos governantes acreditaram que os planos econômicos, os programas de privatização e de aceleração e a capacidade criativa e negocial de nossa classe empresarial pudessem substituir essa prática. Falta-nos um projeto de futuro. Precisamos deixar de lado nossa retórica de buscar culpados imaginários. Antes era o Bush; agora é o Obama. Imaginar que alguém acumule estoque para preservar empregos é utopia. A afirmativa de que no passado a produção cresceu e se trabalhou loucamente neste país não quer dizer que a ordem das coisas não possa se inverter. Enquanto discursamos e procuramos culpados, nos Estados Unidos não se fala de classes, busca-se a soma dos atores e não a divisão e as equipes de governo são multipartidárias. Sabemos que toda equipe que esteja na origem de uma crise dificilmente encontrará a saída. Precisa ser mesclada com novas cabeças, ideais e competências. Equipes devem ser formadas com base na meritocracia e não por congruência ideológica.
O clientelismo político e social tem atrasado o desenvolvimento do Brasil. Precisamos introduzir o DNA da competência na gestão pública. Só assim vamos mudar esse jogo. O País só poderá sair da crise quando começar realmente a atacar a origem dos seus problemas e deixar de fazer apenas marketing econômico. A criação de um ambiente de empregabilidade exige lideranças com o domínio de conceitos básicos de contabilidade, custos, capital de giro, investimentos, formação de estoques, retorno sobre capital, planejamento e orçamento, dentre outros aspectos. Chega de improviso e palpite!

Carlos Stempniewski é professor das Faculdades Integradas