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Estou sendo manipulado?

O filósofo Immanuel Kant dizia que existem dois tipos de vontade: a vontade do mundo e a vontade do homem

Leonardo Maso Nassar

O filósofo Immanuel Kant dizia que existem dois tipos de vontade: a vontade do mundo e a vontade do homem de forma individual. Anos depois, Schopenhauer apresentou um ponto de vista diferente sobre a vontade: a vontade individual estava condicionada à vontade do mundo. Segundo Schopenhauer, toda vez que temos uma vontade, nós a temos por causa da influência exercida pelo mundo; um exemplo de tal fenômeno são os modismos, quando condicionamos nosso comportamento a algo momentaneamente aceito por um determinado grupo.

Ainda sobre vontades, temos Adam Smith com uma opinião sobre as manifestações trabalhistas. Segundo Smith, as manifestações trabalhistas não ocorrem por vontade dos próprios trabalhadores, mas sim dos donos dos meios de produção, os quais usa(va)m pessoas influentes entre os empregados para articular tais movimentos. A maioria dos trabalhadores, obviamente, não sabia que estava sendo usada como massa de manobra para realizar os interesses de seus patrões.

Isso mostra que o interesse das pessoas pode ser influenciado e manipulado. Tal condição é algo terrível, pois o ser humano torna-se impotente perante as vontades do mundo. Ele se torna uma peça fácil de ser utilizada, um mero peão em um jogo de xadrez para realizar interesses terciários desconhecidos.

A manifestação do dia 15 de março para o impeachment da presidente Dilma é uma situação clara de manipulação de massa. A insatisfação com a presidente ganhou tal proporção após o resultado das últimas eleições, quando uma elite, revoltada por não ter seus interesses atendidos, começou a clamar pela remoção da presidente do seu cargo. O principal argumento para o impeachment é a corrupção que vem sendo escancarada com as denúncias na Petrobras.

O que a maioria da população brasileira não compreende é que o principal objetivo da corrupção não é o enriquecimento dos políticos (ou deixá-los mais ricos), mas sim a manutenção do poder. Portanto, o que está em jogo atualmente não é o impeachment da presidente e sim as eleições de 2018. O impeachment surgiu nas elites da população, porém não está presente na pauta dos partidos políticos.

As declarações emitidas por políticos versam sobre impeachment; não tratam de (ou do) impeachment, uma diferença muito grande. Não há nenhum partido político falando de impeachment, nem a própria oposição. O interesse em 2018 ficou muito claro com a declaração do senador Aloysio Nunes, do PSDB, que disse querer "ver a presidente Dilma sangrar". Uma declaração tachada de agressiva pelo Partido dos Trabalhadores. Um exagero por parte do PT, pois foi uma declaração de mau tom, mas não agressiva. Aloysio Nunes apenas usou uma metáfora para dizer que espera a deterioração política de Dilma.

O PSDB, finalmente, depois de praticamente dez anos, sai das sombras para assumir seu papel político como oposição. Depois de muito tempo de "oposição pequenininha que cabe dentro de um fusquinha", começa a fazer barulho; o que é excelente para o bom andamento da democracia. E não há estardalhaço maior do que uma manifestação pedindo impeachment presidencial.

Na cabeça das pessoas, elas estão marchando para tirar do poder um presidente que não atende aos critérios estabelecidos; contudo toda a insatisfação e a vontade de impeachment serão utilizadas sabiamente pela oposição para preparar o terreno das eleições de 2018. Os manifestantes, mais uma vez, serão utilizados como massa de manobra para que os interesses de terceiros sejam atingidos. O que pode ser encarado como amoral por alguns é extremamente normal e não há nada de errado, pois a oposição está apenas cumprindo, finalmente, o seu papel de fazer barulho.

Se o que está em jogo são, de fato, as eleições de 2018, a oposição começa o seu ataque movendo os seus peões, que marcham e bradam sua insatisfação. A situação, mesmo com rei praticamente isolado, pois sua rainha não demonstra sinais de simpatia, tentará sua defesa com um bispo, um cavalo e alguns poucos peões. Em um cenário de derrota praticamente certa, é preciso ter cautela, pois na política, assim como no xadrez, a habilidade do jogador em mover suas pedras é capaz de reverter uma derrota.