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?Férias Coletivas Mataboi?

Na edição do dia 2 de novembro de 2010, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias de Alimentação e Afins, sediada na cidade de Campo Grande – MS, afirmou que o aumento no preço da arroba do boi é pura especulação dos produtores de Mato Grosso do Sul.  Acredito que o Sr. Rinaldo de Souza Salomão, presidente do referido Sindicato, ou não acompanha as notícias veiculadas pelos meios de comunicação ou quer jogar lenha numa fogueira que a natureza impôs aos criadores de várias partes do Brasil, e onde Mato Grosso do Sul foi um dos maiores prejudicados.
A fogueira foi iniciada após longos 4 meses de seca e queda de temperatura no período de inverno. O alerta das autoridades ambientais não foi suficiente para evitar grandes incêndios acidentais ou criminosos em várias regiões do país.
Parques nacionais foram transformados em cinzas, tais como o Parque Nacional das Emas, na divisa dos Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás, o Parque  Nacional da Serra da Canastra em Minas Gerais, o Parque da Serra da Mantiqueira, no Rio de Janeiro e a Chapada dos Guimarães no Mato Grosso.
As margens das rodovias viraram focos de queimadas incontroladas pelo vento freqüente nesta época do ano. Houve regiões onde as pastagens ressequidas se tornaram combustível de fácil propagação das chamas, fugindo totalmente do controle dos proprietários rurais e até uma cidade do Mato Grosso  foi arrasada pelas chamas.
Com a demora na chegada das chuvas, as queimadas se espalhando sem controle e a queda brusca de temperatura, os rebanhos bovinos foram sendo arrasados, com emagrecimento rápido, levando à morte grande quantidade de animais.
Poucos são os pecuaristas que tem suas propriedades próximas de centros produtores de rações, sejam elas industrializadas ou semi  industrializadas.
É preciso informar ao referido sindicalista que, animais criados a pasto, não se adaptam de um dia para outro com rações industrializadas, rejeitando este alimento. Apenas o capim fenado é palatável a estes animais, e os estoques de feno foram rapidamente consumidos.
Além da seca rigorosa, o fogo destruindo as pastagens, nas fazendas onde as áreas de preservação permanente não foram cercadas, as margens úmidas dos córregos conservam-se verdes, tornando-as atrativas para os bovinos procurarem alimento: aí, literalmente a “vaca foi para o brejo” morrendo atolada.
Também, nesta época do ano as vacas estão parindo, gastando boa parte das suas reservas na amamentação das suas crias. Enfraquecidas pela fome, morrem mãe e filho.
Com todas essas circunstâncias adversas, a oferta de animais em condições de serem abatidas, foi-se reduzindo, e a lei da oferta e da procura é uma lei universal.
Após a normalização das chuvas, com a volta das pastagens, o gado volta a engordar, aumentando a oferta, e o preço abaixa.  È só esperar para ver e sentir.
È bom lembrar também que esta situação não é privilégio de Mato Grosso do Sul.
 Como sugeriu o sindicalista, a importação de gado ou carne do Paraguai é regulamentada pelo Ministério da Agricultura do Brasil, que a proibiu desde que gado oriundo daquele País vizinho contaminou parte do rebanho brasileiro com a terrível febre aftosa, obrigando as autoridades sanitárias do Brasil a matar e queimar milhares de cabeças de gado.
Após anos seguidos de preços achatados, muitos produtores recorreram a financiamentos bancários, para se manterem na atividade pecuária. Desses produtores, muitos acabaram vendendo ou arrendando suas fazendas de gado para investidores em outras atividades agrícolas, tais como eucalipto, cana, soja ou milho dependendo da região onde se encontrasse a fazenda.
Mato Grosso do Sul é e será por algum tempo, o fornecedor de animais para os Estados vizinhos como São Paulo e Paraná, e exportador de carne bovina para países do Oriente Médio, África e países do leste europeu, que consideram o preço da nossa carne barato.
Atribuir a produtores de carne o aumento do preço do gado é fácil. Difícil é resistir a todas estas dificuldades imprevistas e continuar produzindo proteína animal para abastecer o Brasil e ainda exportar para muitos outros países.

Claudio Fernando Garcia de Souza – ToTó é pecuarista