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Galgar o sucesso sem cair do salto

Já virou lugar-comum dizer que o grande desafio da mulher atual consiste em harmonizar a ascensão profissional e financeira com o relacionamento amoroso, a dedicação à família, o desvelo com os filhos e, de quebra, os cuidados com a beleza e com a saúde.
Mas só quem está na batalha cotidiana de, literalmente, galgar a escada do sucesso usando salto alto pode entender a fundo o significado desses aparentes chavões. Para a executiva moderna, os problemas não se resumem à dificuldade de arranjar tempo para ir à reunião na escola do filho no mesmo dia em que vai fechar um contrato que pode ser decisivo para a carreira. O principal obstáculo que ela precisa vencer diz respeito à sua própria insegurança, alimentada pelo medo de parecer vulnerável e menos preparada para o exercício do poder que os seus pares masculinos.
Assim, essa mulher tão moderna e emancipada, que já nasceu livre do carma “fogão, tanque e bordado” de suas antepassadas, mas nem por isso passou a vida incólume aos preconceitos, anseia por encontrar o equilíbrio entre o exercício do poder e a feminilidade.
Chegar a esse ponto não é fácil. Basta notar que a personagem-símbolo da mulher vencedora no século 20 foi Margaret Thatcher, a “dama-de-ferro” inglesa, a quem os próprios correligionários apelidaram de “o homem de tailleur”
Mais recentemente, Condoleeza Rice e Hillary Clinton também adotaram a linha “dura na queda” para se firmarem na disputadíssima constelação política norte-americana. No Brasil, a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, tem o desafio de se mostrar uma opção viável à sucessão do presidente mais popular da História do País. Não é tarefa fácil.
A exemplo do que ocorre na política, também no mundo dos negócios as mulheres que alcançam maior projeção tendem a renegar características comumente associadas ao sexo feminino. Com receio de parecerem fracas ou excessivamente emotivas, elas se esforçam para esconder a sensibilidade e optam por um pragmatismo que, não raro, chega a ser exagerado. Desse modo, correm o risco de perder justamente seus diferenciais mais importantes, os quais ajudaram a compor a receita do sucesso feminino nas últimas décadas.
Não se pode ignorar, porém, que muitos avanços alcançados no campo da gestão empresarial, sobretudo no tocante aos recursos humanos, devem-se à inserção da mulher em cargos de comando. Elas adicionaram um olhar mais intuitivo e sensível ao mundo do trabalho. E, cada vez mais distantes do estereótipo do sexo frágil, provaram que inteligência e competência não têm nada a ver com testosterona.

Patrícia Centeno é gerente-sênior da BDO, uma das cinco principais empresas do mundo em auditoria