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Grita quem quer, manda quem pode

Já não se fazem PMDBs como antigamente. E há muito, muito, muito tempo. Quando o senador, ex-governador e fundador do partido Jarbas Vasconcelos (PE) põe a boca no trombone para dizer o que todo mundo sabe, suas queixas são recebidas não com vergonha e constrangimento, como deveriam, mas com desdém e ataques, como foram. Jarbas fica falando sozinho. E –o mais incrível!– apanhando.
O que ele disse? Que o PMDB é um partido cheio de corruptos, sem bandeiras, sem propostas, de olho em seus próprios interesses e nas boquinhas de governo. É mentira, Terta?
Enquanto Jarbas reclama ética, o PMDB vai se infiltrando por todos e cada cantinho de poder –e de vantagens– do Congresso. Depois de eleger José Sarney presidente do Senado e Michel Temer presidente da Câmara, agora avança, guloso, sobre comissões, secretarias, o que tiver pela frente. E cada nome que apresenta!
Um dos mais valentes na contestação ao que Jarbas Vasconcelos acusou foi o deputado Eduardo Cunha, do Rio, um já velho conhecido de leitores de jornais e revistas, desde a época em que presidiu a Telerj no governo Fernando Collor. A empresa evaporou, como o próprio governo, mas Cunha e a sua (dela) má fama ficaram, com um lastro de histórias jamais devidamente esclarecidas. E agora ele emerge como um dos cérebros desse PMDB e desse Congresso que estão aí.
Além de mandar na Comissão de Constituição e Justiça pela terceira vez consecutiva (uma delas sem intermediários), Eduardo Cunha também já põe os pés, as mãos e os prepostos na igualmente poderosa Comissão de Minas e Energia, além de virar relator da medida provisória que cria um fundo para o setor elétrico. Em outras palavras, ele fecha o cerco: assume a CCJ, dos aspectos legais, e o setor energético, dos aspecto$ financeiro$.
O PMDB está ainda embolsando uma terceira comissão. Aliás, a deputada paraense Elcione Barbalho está: a de Seguridade Social e Família. Tudo em família.
Ou seja: Jarbas pode ficar rouco de tanto berrar, e o único a lhe dar ouvidos é Pedro Simon (RS). Os dois são símbolos e referências do velho PMDB, mas não têm nada a ver com o novo PMDB e certamente não projetam o futuro PMDB. Nem o que o partido será daqui a 10, 15 anos e muito menos para que lado irá em 2010.
Quem vai decidir isso, uns puxando para um lado, outros para outro, são Sarney, Temer, Jader, Geddel, Renan, Newtão, Quércia e emergentes como Cunha. Jarbas grita, eles mandam.

Eliane Cantanhêde é colunista e comentarista política