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JK e a Revolução

Não é nenhuma novidade que os movimentos revolucionários percam sua unidade tão logo estejam vitoriosos. A luta pelo poder é inerente à política e aos homens. A história está repleta de exemplos, até mesmo na vigência da mais plena democracia. Fatos inexplicáveis acontecem, como o caso da derrota de Churchill, logo depois do fim da guerra.
No Brasil de 64, não foi diferente. Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, dois influentes líderes do movimento, foram cassados e perderam seus direitos políticos. Magalhães Pinto, o líder civil, teve seu acesso à Presidência da República barrado.
A Revolução não foi feita contra JK, como entenderam e lutaram os udenistas, até obterem, no último minuto, o ato do presidente Castelo Branco, que, inclusive, teve o voto do senador por Goiás e ex-presidente da República no Congresso Nacional. JK foi alvo de pressões da UDN lacerdista e do então ministro Arthur da Costa e Silva, muito assediado pela oficialidade lacerdista.
JK, no dia seguinte a queda de Goulart, ao sugerir a rápida retomada da normalidade com a posse em definitivo de Ranieri Mazzilli, declarou que, efetivamente, a infiltração comunista no interior do Governo Goulart havia passado do aceitável. Estão aí os jornais da época como prova – mais especificamente as edições dos dias 3, 4 e 5 de abril.
O ex-presidente, então candidato do PSD na eleição prevista para 1965, viu a maioria de seu partido votar em Castelo Branco e, no ano seguinte, com o fim dos partidos e a criação do bi-partidarismo, integrarem a ARENA. A começar pelos mineiros Israel Pinheiro, Murilo Badaró , Ozanan Coelho e Benedito Valadares, de quem JK fora Prefeito nomeado de BH.. Na linha de frente da Revolução, estavam alguns de seus mais leais ministros, como o general Nelson de Melo, José Maria Alckmin (vice de Castelo), além dos senadores Gilberto Marinho, Rui Carneiro, Vitorino Freire,Auro de Moura Andrade,Filinto Muller – líder do PSD no tempo de JK – dos amigos da qualidade de Augusto Frederico Schmidt e Rui Gomes de Almeida, entre outros.
A Revolução que tanto fez pelo Brasil – construindo o que praticamente temos em termos de energia, transportes e telecomunicações, além da reforma administrativa e anos de baixo índice de corrupção – cometeu seus erros, entre os quais punir, sem justificativa, um de seus homens públicos mais queridos e com grandes serviços prestados a Minas e ao Brasil. O tempo mostrou a monstruosidade das acusações de corrupção, do grupo mais radical da UDN, pela vida modesta que o ex-presidente, sua viúva e suas filhas tiveram.
Não existe nenhuma incoerência em apreciar JK e exaltar o movimento de 64, que, ao irromper, encontrou a nossa economia no 46º lugar e, ao terminar, entregou como a oitava. Mas, nesses tempos de inversão de valores, querem os inimigos mais radicais de 64 se apresentarem como companheiros de JK, que nunca foi de esquerda, nunca apoiou movimentos armados e atos de violência. E mais: ainda no período militar, no governo do presidente João Figueiredo, foi doada à área e construído o Memorial JK, em Brasília. Afinal, na história, Getúlio Vargas, JK e os militares estarão juntos, queiram ou não, nos avanços que tivemos ao longo do século XX.

Aristóteles Drummond é Jornalista, Administrador de Empresas e Relações Públicas