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Lendo as pesquisas

Na última rodada de pesquisas de fim de ano, tanto o Ibope como o Datafolha, mostraram que a presidente Dilma Rousseff tem uma boa popularidade, com índices positivos de aceitação de seu governo, e que levam à conclusão de que a maioria da sociedade acredita que tudo segue no caminho certo, apesar de apontar, aqui e ali, que os setores de saúde e de segurança precisam ser melhorados substancialmente.

Mesmo assim, é muito comum encontrarmos pessoas que colocam em dúvida a veracidade destes levantamentos, pois acompanhando o noticiário só conseguem ver escândalos de corrupção, obras paradas, PIB fraquinho e “gente reclamando do governo”. 

Diante disso, nada mais natural que a avaliação da presidente e de sua gestão seja considerada negativa. “Como é que o povo não enxerga a bagunça que está ocorrendo?”, perguntam aqueles que olham a realidade por um viés mais crítico, levando em conta que o Governo devia ser bem melhor do que está se apresentando.
 
Acho que primeiro devemos considerar que pesquisas apresentam médias ponderadas. Se por acaso os institutos decidissem só realizar os levantamentos em grandes regiões metropolitanas certamente os números seriam um pouco diferentes. Da mesma forma se a pesquisa desse um peso maior para o Nordeste no número de entrevistas, ou ainda se o mesmo ocorresse com a região Sul ou Sudeste. Ou seja, o Brasil é muito complexo para que levantamentos estatísticos tenham validade incontestável.
 
Sendo assim, devemos considerar que as pesquisas apresentam uma sombra da realidade, indicando tendências que podem se consolidar (ou não) com o passar do tempo. Por isso, é muito útil analisar essas pesquisas dentro das chamadas séries históricas, pois elas mostram indicadores de longo prazo que permitem que se façam leituras mais adequadas sobre o que se passa pela cabeça dos brasileiros em relação a assuntos institucionais.
 
Para aqueles que acham estranho a aprovação do Governo Dilma estar tão elevado há que se olhar para dois indicadores do IBGE que mostram que, mesmo com problemas na economia, os indicadores de emprego e do consumo das famílias são mais do que satisfatórios. Esses dados asseguram uma sensação de bem-estar que se reflete nos levantamentos feitos pelos institutos de pesquisa. Por mais que os problemas venham se avolumando – e o governo venha cometendo um erro atrás de outro – o que conta, afinal, para o sujeito que está sendo entrevistado, é se a situação dele está relativamente estável. Se estiver, ele responderá positivamente, mesmo que reconheça áreas de estrangulamento.
 
O problema, contudo, é o uso político que se faz destes números. Os governistas utilizam os levantamentos para mostrar que o trabalho que estão fazendo está correto e que contam com o apoio e reconhecimento da maioria da população – algo que não é inteiramente verdadeiro porque é muito complicado obter diagnósticos estáticos para processos que estão em curso. Os oposicionistas, por sua vez, relativizam os mesmos dados, indicando que as pesquisas mostram que o País tem problemas e que só se pode atribuir popularidade e aprovação do governo e da presidente no período de campanha eleitoral, visto que aí se promove o teste supremo do governante.
 
Isso também não é inteiramente verdade, porque pesquisas também revelam coisas subjetivas que às vezes tem mais força do que dados concretos. A chamada “consolidação da imagem” é uma delas.  Neste aspecto, tivemos um exemplo clássico nas últimas eleições para prefeito de Campo Grande: mesmo com a prefeitura e o governo do Estado tendo administrações bem avaliadas objetivamente o imaginário da sociedade direcionou-se para o outro caminho, dando vitória para a oposição.
 
Isso mostra que as pesquisas muitas vezes não conseguem captar certas tendências sociais. Às vezes um tema secundário desconsiderado hoje poderá ser extremamente prioritário amanhã, no decorrer da campanha eleitoral. Neste sentido, olhando com lupa os números do Ibope e do Datafolha é possível depreender que em 2013 o Governo Dilma enfrentará várias tempestades e que é provável que sua situação se modifique. O que não significa dizer que ela ficará imóvel assistindo a tudo sem tomar decisões. Muito menos seus opositores – espera-se.  Será o conteúdo das decisões de ambos os lados que indicará para onde, afinal, o barco irá. Espera-se que não fique à deriva.

*Abdalla Maksoud Neto é advogado