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Opinião

Matemática, uma ciência sinistra?

A Matemática é uma ciência sisuda, sinistra, lúgubre, abstrata e tem cara de poucos amigos ― pensam muitos que por ela foram humilhados. No entanto, sendo a Matemática a rainha e serva de todas as ciências, uma das joias da coroa de Sua Majestade é lúdica, bem-humorada, hilária e se apresenta na forma de quebra-cabeças, passatempos, sudokus, diversos games, causos e galhofas. Divertem e são bálsamos para as horas de tédio ou quando falta companhia. Ademais, ensejam a têmpera racional da mente. Merecidamente, o mercado de trabalho valoriza o profissional com senso de humor, leitor e dotado de raciocínio lógico.
Os quebra-cabeças são desafios estimulantes. Dos milhares existentes, escolho dois: 1)Três gatos comem três ratos em três minutos. Cem gatos comem cem ratos em quantos minutos?; 2) Numa lagoa, há dois patos na frente de dois patos, dois patos no meio de dois patos e dois patos atrás de dois patos. Quantos patos há na lagoa? Após muitas sinapses, chegamos às respostas: 3 minutos e 4 patos.
Há também anedotas. Um casal de matemáticos cujo marido se chamava Roberto tinha três filhos: zero-roberto, um-berto, dois-berto. A filosofia popular é recorrente desde os para-choques dos caminhões ― “A minha vida é como a Matemática, cheia de problemas” ―, até as cavilosas piadas do Joãozinho.
     Histórias pitorescas sempre têm um pouco de fantasia, principalmente quando se reportam a homens bem-sucedidos. Conta-se que na Universidade de Harvard havia um professor de Cálculo Integral extremamente rigoroso. Na última avaliação do ano, elaborou uma prova muito difícil e lançou um desafio a seus alunos: “se um de vocês tirar nota 10 nesta prova, peço demissão da Universidade e serei seu assessor”. Era seu aluno um fedelho de 17 anos, no entanto brilhante nessa disciplina. Obteve nota 9,5.
Até hoje, o nosso caro professor lamenta ter sido tão exigente. Perdeu a oportunidade de se tornar um dos homens mais ricos do planeta. Em tempo: o aluno se chamava Bill Gates.
Enfim, a Matemática tem seus encantos, apesar do rigor e de sua linguagem fria e sincopada. Contemplando as leis físicas e universais, a harmonia e a beleza do Universo, já se disse que a mente de Deus é matemática. E em valorização ao cômico e divertido, não é difícil anuir com Umberto Eco: “O riso aproxima o homem de Deus.”

Jacir J. Venturi foi professor e é escritor