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Na Suíça, não dá

Não sei se a Paula Oliveira, a brasileira que está em pendengas com o governo suíço, é inocente ou não. Está bem enrolada.

Na Veja dessa semana a madrasta de Paula afirmou que a gravidez podia ser comprovada por exame médico. “Temos até ultrassom”, disse.

O ultrassom é um documento copiado do site do New York Times.

Conclusão: a Suíça está desmontando a história, já provou que não havia gravidez e agora vai processar Paula por falso testemunho e, a exemplo da China, que cobra da família as balas usadas na execução de criminosos, vai cobrar as custas do processo investigatório provocado pela brasileira.

O que posso dizer é que Paula Oliveira escolheu um péssimo lugar, no caso, a Suíça, para trapacear, se estiver mesmo trapaceando. Uma das melhores polícias do mundo, provavelmente a melhor medicina do mundo e um país extremamente estruturado.

Minhas poucas conexões com a Suíça mostram que ali as coisas funcionam de forma diferente do que no Brasil, na África, na Bolívia e em outros países onde honestidade, corrupção são comuns como arroz e feijão.

Comprei um relógio em Lucerna, uma linda cidadezinha suíça e fui preencher o cartão de garantia internacional. Já estávamos aguardando há meia hora e eu preocupado com o ônibus que iria passar para nos apanhar numa pracinha próxima. Perguntei se não podia levar o relógio e deixar a garantia de lado, pois, afinal, eu iria para o Brasil e dificilmente usaria aquele cartão.

A resposta não poderia ser mais suíça: se o senhor abrir mão da garantia, não podemos vender o relógio. Perguntaram-me se eu queria desfazer a compra! Esperei mais uns vinte minutos e saí com o tal cartão (que nunca usei, realmente!), muito mais rico com aquela experiência de ver como se faz em um país decente.

Outra experiência, que já contei a meus leitores, foi ver vários executivos engravatados em uma clínica médica, nas proximidades de Zurich, onde tínhamos levado uma companheira de viagem que não estava passando bem. Estranhei tantos caras de gravata em um setor onde havia três ou quatro computadores enfileirados.

Eram auditores de seguro, mandando seus relatórios para as respectivas matrizes. As seguradoras são obrigadas a conferir em todos os hospitais se há segurados internados, se estão sendo bem atendidos (quem responde é a família ou o próprio paciente), se há alguma queixa contra o hospital, etc..

Faça chuva ou sol, se uma seguradora não fizer essa visita e preencher essa pesquisa de satisfação da clientela, ou se, como disse a guia, um segurado não for visitado ao fim do dia, a seguradora não operará mais na Suíça.

Parece o Brasil, não? Bem, a verdade é que num país desses, com essa organização, alguém querer aplicar um 171 descarado contra o sistema, é uma temeridade.

Espero que Paula seja inocente. Mas se não for, espero que no próximo golpe ela escolha um país mais condescendente ou desorganizado.

João Campos é advogado especialista em Direito do consumidor