Veículos de Comunicação

Opinião

Nas portas da história, as mulheres firmam o trinco

 Para muitos, a presença marcante da mulher entre as grandes decisões sócio-político-culturais do mundo força as portas da história. Como se fosse isto, para o homem, um privilégio e para a mulher um crime contra a sociedade. Entendo que, se de fato as mulheres forçaram as portas da história, com uma mão firmaram o trinco e com a outra escoraram a fibra dos homens da terra de nomes ilustres.

A mulher está integrada no âmbito de colaboração com a formação histórica do mundo. Pesquisam registram sua participação constante, seja na economia, nas artes, na cultura, na política e em outros setores. A carta das Nações Unidas, datada de 1953, institui o direito de cidadania à mulher. Direito reconhecido um pouco tarde, considerando os grandes nomes femininos na formação sócio-cultural do mundo. 


Nomes estes, rareados em biografias, escassos nos livros de registros e sensos épicos. Nomes daquelas que defenderam direitos reais, muitos de dever masculino. A coragem de guerreiras, seja em armas ou tribunas, em um mundo de homens e para homens. Sim, as Nações Unidas ainda dormia no tapete da inércia, por volta do século XVI, quando já sobressaíam-se Ana Pimentel, Mãe Benta e Madalena Caramuru. Mais tarde, no século XVII, eis que o mundo aplaudia, entre outras, Maria Úrsula, Rosa Maria de Siqueira e Ana Paes d’Altro. Não preciso pensar muito para falar em Maria Quitéria, Maria Graham e Marquesa de Santos, isto no século XVIII. Logo em seguida, Anita Garibaldi, Ana Néri, Cora Coralina, Chiquinha Gonzaga e Bertha Lutz. Abro as portas da memória e avisto Raquel de Queirós, Irmã Dulce, Benedita da Silva e Maria… e Joaquina… e Irene… e tantas e tantas.


O século XXI está aí, diante de todos, com suas mulheres atuantes e impondo seus direitos. Para isso, herdaram exemplos de antepassadas. De muitas que pariram sós e choraram para dentro. Fizeram sabão, trançaram couros, guardaram doces, embalaram filhos e esperaram maridos. Viveram tempos temerários. Passaram essas mulheres por vários desafios e o próprio meio tratou de igualá-las ao homem, muito antes dos Direitos Humanos pensar e agir.


Essas mulheres andavam, tinham fome, engravidavam, ganhavam filhos, lutavam, mordiam, arranhavam, mas também possuíam alma. Ah… mulheres de fibra, fiando, tecendo, cozendo e cosendo; lavando e bordando; valentes e decididas. São elas, tudo fazendo para restabelecer o entusiasmo entre os homens, afastando malquerenças e amando com coração aberto. Algumas sofreram erros e saíram lesadas, mas foram pontos positivos da mulher.


Não restam dúvidas, a presença da mulher na construção do mundo é de fundamental importância. A formação do lar num todo, desde a geração dos filhos à preservação material e espiritual de suas paredes. O prosseguimento de um nome de família, uma história perpetuada. A mulher, em certo modo, não compete com o homem e nem deve, mas soma sua contribuição a dele. A grandeza não está no sexo, na cor ou raça, porém na causa que abraça e defende. Sem dúvida, são a tramela da porta que impede a invasão dos males que, por ventura, venham forçar a destruição de lares. Salvem elas, independente de uma data comemorativa, mas lembradas dia após dia.

*Cláudio Xavier é jornalista e professor