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Editorial

O futuro de Dilma nas mãos de 21

Leia editorial com a opinião do Jornal do Povo deste sábado (23)

Não se trata de nenhum número emblemático, cabalístico e nem mágico. Vinte e um é o número de senadores que compõem a comissão de impeachment montada no Senado para avaliar o processo de crime de responsabilidade da presidente Dilma Rousseff. É, também, a quantidade de pessoas que devem, desde ontem, saber como olhar para os 204,4 milhões de brasileiros que esperam apressadamente por uma definição do imbróglio que só cresce em torno do possível impeachment da presidente.

A definição da comissão é, contudo, só mais um passo no extenso processo que pode se transformar a cassação de Dilma, considerando que o impeachment não será somente um ato político, mas também jurídico, administrativo e popular à medida que acarretará judicialização, alterações de comando e reações do eleitorado da presidente.

Por partes. A ida do caso à Justiça, direto ao Supremo Tribunal Federal é algo tão claro quando o desejo do PT de barrar o impeachment. Petistas de todos os tamanhos já preparam recursos contra qualquer decisão que o Senado venha a tomar em prejuízo da presidente. E não poderia ser menor que esta a pretensão dos aliados ao governo. 

As alterações de comando serão consequência da possível troca Dilma-Michel Temer. O vice-presidente, inclusive, já faz planos para governar ao lado dissidentes do Palácio do Planalto e de segmentos da oposição – democratas e tucanos, principalmente. É natural que   Temer queira mexer na política econômica, no comando do Banco Central, na liberação e na conclusão de obras. Tudo isso afetará o funcionamento do governo.

Por último, as reações de petistas e aliados ao governo – com peso incalculável da participação popular – poderá transformar os primeiros dias pós-impeachment em confrontos por todo o país. E aí entrará em prova a capacidade de um novo governo convencer a população de que a troca de comando foi a melhor alternativa. Senão a única  ao país. 

Deve ser considerado o poder de mobilização do ex-presidente Lula, as articulações sempre previsíveis de sindicatos e centrais de trabalhadores, o destemor de movimentos sociais e a força da internet com seus milhares de mecanismos de construção e de destruição. 

Os primeiros passos da comissão de senadores – composta inclusive por políticos de Mato Grosso do Sul – serão fundamentais para dar o ritmo do processo. Se lento, é certo que o país pagará alto preço até a definição. Se apressado, o custo pode ser a antecipação dos reflexos já citados, em especial a judicialização. Nas mãos dos senadores repousa, por enquanto, o maior problema social já enfrentado pelo país – maior inclusive que o da saída do regime democrático, em 1964, para o do militarismo, que durou 21 anos.

Hoje, o Brasil parece dependente de cores partidárias para saber se anda ou para. Esta colorização das bandeiras de defesa ou decapitação do governo Dilma é o que deveria ser evitado. Contudo, é raiz de um modelo que se criou para dividir brasileiros entre brancos e negros, ricos e pobres, nós e eles – tudo o que o Brasil nunca havia sido e nem carecia. As previsíveis reações que virão após o eventual impeachment de Dilma são fruto destas divisões. 

Nas mãos dos senadores da comissão e de quem assumir a cadeira que hoje é de Dilma estará, indubitavelmente, a obrigação de unir o país e minimizar a judicialização, os impactos da mudança de comando e as inevitáveis reações populares