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Opinião

O resgate do prestígio do professor

Resgatar o respeito, o prestígio e até o glamour da carreira do magistério é o primeiro passo para uma significativa melhoria em nosso combalido sistema educacional. A desvalorização do professor é o principal limitador para que os nossos mais talentosos alunos abracem a sublime missão de legar uma geração melhor que a nossa.

Em subsequentes anos e salas distintas do ensino médio, refaço a mesma pergunta:

─ Quem de vocês quer ser professor?

A resposta é previsível: nenhum ou no máximo dois alunos por sala erguem corajosamente a mão. Tal resultado coaduna-se com a pesquisa da Fundação Victor Civita: apenas 2% dos 1 500 jovens entrevistados querem ser professor.

Colocando o dedo na ferida – e isso dói – há razões para esse despautério que deve ser compartilhado pelos governos, famílias e docentes. A principal jóia da coroa de uma estrutura educacional deve ser a sala de aula. Esses são os metros quadrados mais nobres, e quando o seu entorno não é bom a sala também é maculada.
Aos governantes compete instituir planos de carreira estimuladores, nos quais se estabeleçam critérios de meritocracia. “A universalização do Ensino Fundamental no Brasil foi feita à custa dos baixos salários dos professores” – opina enfaticamente Célio Cunha, da UNESCO.

O respeito à hierarquia e às normas da escola carece da efetiva participação dos pais para que a boa rotina escolar não seja comprometida. Quando famílias e alunos de bem se omitem, a alegoria é de duas trincheiras opostas: numa, professores e gestores e, na outra, alunos indisciplinados, perniciosos e pais ou permissivos ou agressivos.

No resgate do prestígio da carreira do magistério, o mais relevante é a postura e o profissionalismo do docente: manter-se atualizado nos avanços da sua matéria e das novas práticas e tecnologias educacionais, aula bem preparada para o enlevo da motivação e disciplina, além de um bom nível de exigência no conteúdo, a fim de promover nos educandos  bons valores, autonomia e autodidatismo.

Nenhum país nutre tão profunda reverência aos mestres quanto o Japão. Ao cumprimentar o seu imperador, todos se curvam, com uma única exceção, pois “sem professor não haveria um bom imperador”. Tive o privilégio de compartilhar 16h de convivência – num final de semana – com 40 docentes nipônicos para uma troca de experiência. Eles dedicam dois turnos a uma única escola, onde lecionam, atendem os alunos, corrigem tarefas e preparam aulas. Professores e alunos têm em conjunto um almoço frugal na escola, feito por uma cozinheira e, pedagogicamente louvável: não há figura da zeladora. A limpeza dos pratos, talheres, pátios,salas, corredores, é tarefa dos alunos e professores. Com autoestima elevada, dizem os mestres nipônicos que gozam da deferência da comunidade e recebem incentivos para viagens e atividades culturais. Ah, são considerados bons partidos pelas moças e moços casadouros pelos 45 dias de férias, emprego estável e por gostarem de crianças. E deixaram escapar uma lamúria, que ribomba em todos os quadrantes: o salário é aquém dos engenheiros, médicos, executivos e quase metade é comprometido com o aluguel nos subúrbios de Tóquio.

No Brasil, quando se fala de status remete-se ao professor de cursos pré-vestibulares. São bons didatas, alunos motivados, estrutura física e tecnologia excelentes, salários elevados, 60 dias de férias e ambiente de glamour. Um colega meu, professor de Matemática, fazia galhofa: “é tão bom dar aulas em cursinho e ainda somos pagos”. Para mestres e alunos, um bom ambiente escolar é um ganha-ganha, é uma terapia.

Para finalizar, reitero a conhecida frase de D. Pedro II, que bem demonstra o enlevo da profissão: “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.”

*Jacir J. Venturi, diretor de escola, autor de livros e foi professor da Educação Básica e Ensino Superior