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Opinião

O Verdadeiro Progresso

Quem conheceu a cidade de Três Lagoas antes da construção da Hidrelétrica de Jupiá certamente confirmará quão significativos foram o crescimento e o desenvolvimento verificados na sede e no município treslagoenses  até os dias de hoje. Mais ainda, em análise isenta, admitirá que tão grandes e positivas transformações sócio-econômicas não se deveram, rigorosamente, à realização do referido projeto energético. Pode se dizer, aliás, que Três Lagoas, aparentemente beneficiada por sediar o estratégico empreendimento, veio a pagar um altíssimo custo social e econômico quando, findas as obras à montante da ponte ferroviária “Francisco de Sá” sobre o Rio Paraná e, deslocado para Ilha Solteira o formidável aparato da já então CESP (ex-CELUSA),  a cidade e seu entorno viram esvaziado e aviltado o seu equipamento urbano de suporte às grandes obras e instalado em toda a região  um empobrecimento que somente veio a ser minorado com a divisão territorial que ensejou o novo Estado de Mato Grosso do Sul.

Ademais, ainda que se reconheça o efeito positivo advindo da divisão territorial e dos novos marcos institucionais propiciados, cabe lembrar que Três Lagoas, desde sua fundação em 1915, à parte o romantismo separatista e as jactâncias da “Cidade-Estado”, sempre reuniu condições para assumir liderança regional, vez que encravada em porção generosa do umbral do Oeste Brasileiro, qual seja o Bolsão Sul Matogrossense, com extensas áreas de terra propícias à ocupação econômica em escala. Contudo,  isso ainda seria porção bruta ou improdutiva não fosse o sonho, o destemor e a fé dos  pioneiros que se aventuraram na inóspita paragem de então. O resultado: a Três Lagoas de agora, que em 1991 tinha pouco mais de 60 mil habitantes praticamente dobrou esse número e é sede de um complexo industrial em acelerada expansão – em termos materiais, notável – mercê  do descortino de seus líderes e de sua gente, que souberam transformar poucas oportunidades em iniciativas reais e efetivas de progresso.

 
Relação de causa e efeito, o progresso material impõe obrigações sociais que refletem e demandam não só crescimento, algo tangível e mensurável em números, mas, também, desenvolvimento, um desiderato mais complexo e que se identifica com bem estar coletivo, cidadania e dignidade humana, em essência, a felicidade a que, cada um de nós, tem direito. Nesse aspecto, os treslagoenses em geral, radiantes com as plantas industriais que se instalam no município, com as empresas que aqui se multiplicam e com um efeito multiplicador que lhes promete dias melhores, muito compreensivelmente, se preocupam com os  problemas – parasitas inevitáveis do progresso – trazidos pela vertiginosa expansão das atividades econômicas (melhoria na infraestrutura, qualidade dos serviços básicos, demandas crescentes em segurança, saúde, educação,.habitação, meio ambiente, entre outros).
É certo que tais preocupações, tão próprias do homem comum das ruas, constituem o dia-a-dia e o manual de funções do administrador público em qualquer escalão. Porém, manda o dever cívico e, muito assumidamente, o dever comunitário, sejam elas pesadas e terem soluções propostas e buscadas no âmbito das lideranças locais dos clubes de serviço, das entidades classistas, das cúpulas gerenciais lotadas nas empresas,  enfim, dos próceres  que Três Lagoas, afortunadamente e por vocação, produz em quantidade e qualidade. Crença e Competência e Consciência e Vontade, atributos historicamente entranhados na cultura local, intangíveis é verdade, são o maior insumo e o melhor produto da matriz de progresso a que Três Lagoas deve propor-se e buscar.


Hélio Silva é economista e advogado