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Perdemos a fé

Simone Tebet declarou que “esta é uma crise onde as pessoas não acreditam mais na classe política"

Neste fim de semana, em entrevista concedida ao Jornal do Povo, a senadora Simone Tebet declarou que “esta é uma crise onde as pessoas não acreditam mais na classe política, e com razão diante de tanto de tantos acontecimentos que entristecem os cidadãos”, ao fazer uma análise do cenário político e econômico nacional que se apresenta para este ano.

A senadora está certa. Há tempos que o brasileiro não manifestava com tanta intensidade a sua descrença com a classe política, principalmente, com os investidos em mandatos populares. Nas manifestações de junho de 2013, o grito pelo fim da corrupção ganhou as ruas de todo o Brasil. Por incrível que pareça, naquele ano,  a gota d’agua foi o reajuste na tarifa do transporte público.

As manifestações não continham nenhum apelo político partidário. Ninguém queria derrubar o governo, pedia-se, somente, para acabar com os abusos e a corrupção desenfreada que solapa o país. Mas, após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), e com tantos escândalos que eclodiram envolvendo o maior bem nacional, que é a Petrobras, a população voltou às ruas. Elite ou não, o povo quer falar e ser ouvido. Entre os pedidos, mais uma vez, estava o fim da corrupção como ponto chave, em seguida também apareceram os que querem derrubar a presidente e até mesmo um ou outro que defende o retorno da ditadura militar, chaga que abafou a revelação de lideranças no país e que devemos repudiar com todas as forças. Uma nova manifestação está prevista para o mês de abril, inclusive, em Três Lagoas, quando se espera uma maior participação popular do que realizada recentemente, que sequer chegou a mil pessoas, ou seja, menos de um por cento da população local.

O povo brasileiro precisa gritar cada vez mais alto para fazer valer os seus direitos. Em outros países, por muito menos, se vai às ruas. Aqui, demorou, e muito, para ver isso acontecer. Por muitos anos, o povo brasileiro viveu sob o império do regime de força que abafou a liberdade de expressão, aliás, combatida com ameaças e prisões e até torturas. Depois disso, como concluiu Zuenir Ventura, a população deixou de se preocupar com a política e passou a dedicar ao culto do corpo. Agora, a política voltou à pauta de encontro com amigos, familiares e colegas de trabalho. Falar sobre política não causa mais medo.

Sim, milhões e milhões em dinheiro estão sendo jogados pelo ralo no Brasil em consequência de esquemas entabulados de favorecimento em detrimento do interesse comum. Três Lagoas pode ser lembrada nessa prática. Uma cidade de 110 mil habitantes, aproximadamente, com 17 vereadores que gastam mais de meio milhão de reais (R$ 617 mil, para ser mais exato) somente com diárias para viagens.  Insatisfeitos, cada um recebe um salário de R$ 10 mil  mensais. Praticam todas as modalidades de dribles para darem caráter de legalidade aos abusos que cometem contra o erário público. Enquanto isso, a população vê aumentar os seus impostos, o custo de vida, a alimentação, a precariedade da saúde que apresenta qualidade de atendimento duvidoso, assim como tantos outros serviços que são pagos com o salário de cada um.

É preciso mudar essa realidade. No entanto, essa mudança também precisa acontecer internamente. Além de cobrar da classe política maior transparência, o cidadão de bem também precisa aprender a lutar para honrar o que lhe é devido constitucionalmente.  É inaceitável ver um cidadão que vai às ruas pelo fim da corrupção, pedir para não receber uma multa por ter deixado um imóvel seu tomado pelo mato, a calçada esburacada sem reparos, porque conhece alguém influente na política. Ou ainda, saber e não denunciar quem se  cadastra, sem necessidade, em programas sociais como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, na ganância de ‘sair no lucro’, de se dar bem de qualquer jeito.

Também não faz sentido cobrar respeito com o dinheiro público, quando o Brasil deixa de arrecadar R$ 500 bilhões por ano com a sonegação de impostos, que consegue ser ainda maior que a própria corrupção que já alcança, por enquanto a cada dos R$ 67 bilhões.

Um fato não anula, ou justifica o outro. Os dois casos, sonegação ou corrução, são graves e precisam ser tratados como ações criminosas, que hão de resultar na prisão dos que surrupiaram os cofres públicos.  Só assim, vamos conseguir construir a sociedade que tanto almejamos para nós e nossos filhos.