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Opinião

Pesadelo de Natal

O recebimento de carnês de IPVA, IPTU em minha caixa postal coincide com o noticiário de distribuição de cargos em Brasília. Os números dos carnês são de doer. Já na TV as caras carimbadas: Wellington Moreira Franco, Michel Temer (o anjo distribuidor-mor das bênçãos com o meu dinheiro), Garibaldi Alves, Palloci, Mercadante…
Esses ectoplasmas saem de seus sarcófagos, sacodem as teias de aranha, sorriem para a platéia, preparam seus trajes e preparam-se para receber por três, quatro anos seus holerites e suas mordomias.
No sofá, nós, os pagadores dessa festa, só podemos morder o nó dos dedos e constatar, ano após ano, que vamos trabalhar 5 meses do próximo ano só para pagar impostos, os mesmos recursos que serão depositados bondosamente na conta corrente dos sanguessugas.
Sob o argumento de que o Brasil precisa organizar sua administração, os ministérios vão sendo loteados para este e para aquele partido. Na verdade, não está em jogo o interesse nacional, mas, sim, a acomodação dos oportunistas de sempre. Para o Ministério “x” não vai o melhor técnico, mas o político que perdeu a eleição em algum Estado e, por estar ainda lambendo as feridas eleitorais, precisa ser acomodado.
Se precisar suspender o supremo voto popular, cancelar a vontade do eleitor e nomear aquele deputado que recebeu milhões de votos para um ministério, só para que o obscuro suplente seja consolado de suas dores, eles o farão na maior cara-de-pau. O povo que elegeu o deputado não tem a menor importância!
Os partidos, grandes, pequenos ou irrelevantes que recebem esses ministérios, com seus respectivos orçamentos, devolverão o favor votando obedientemente os projetos do governo, não importa o que eles signifiquem para o povo brasileiro. Ou seja, o Congresso Nacional será apenas um tambor, cujas batidas soarão sempre contra nós, os que recebemos carnês de impostos.
Infelizmente, não é apenas uma equação entre os que pagam impostos e os que recebem o dinheiro e gastam como bem entendem. Não, porque as equações se resolvem em algum momento, o resultado aparece e o exercício se encerra. Em nosso caso, o resultado será sempre contra nós, os carnês serão pagos ou executados na Dívida Ativa.
Eles sempre receberão os depósitos pontualmente em suas contas numeradas, bem administradas pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica.
No último ano o governo aumentou extraordinariamente sua arrecadação. Espionou cidadãos, comprou controles informatizados de milhões de dólares, criou formulários, classificou o cidadão em uma cadeia que vai do contribuinte, ao inadimplente, ao falsário, ao colarinho-branco. Na sombra, os políticos, sempre eles. Só precisam comprar, de tempos em tempos, seus votos e voltar a Brasília, aos seus hotéis refrigerados, às limusines e aos carros pretos de chapa imaculada.
A vida continua. Você pode assistir a tudo, em silêncio, comparando carnês, distribuição de ministérios e repetidos aumentos de arrecadação de tributos. Mordendo o nó dos dedos.
Só não pode fingir que esse pesadelo não está acontecendo.

João Campos é advogado especialista em Direito do consumidor