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Saudades

Ramez Tebet, 10 anos de eternidade

Ex-prefeita de Três Lagoas e senadora fala sobre o pai

No último dia 17, pedi a permissão dos meus colegas para falar, da tribuna do Senado, sobre o meu pai, o ex-Senador Ramez Tebet. Naquele dia, completaram-se dez anos de sua morte. Devo dizer, antes de tudo, que esses não foram dez anos de ausência, mas de uma presença cada vez mais grata e mais plena.

Os servidores mais antigos do Senado o recordam como “o Senador que assobiava”, pois era assim – assobiando – que ele percorria o Túnel do Tempo, como é conhecido o corredor que leva dos gabinetes ao plenário.

Contam que ele só interrompia suas melodias para praticar a outra arte que mais apreciava: a conversa. Ao encontrar um colega, um amigo, um servidor, um conhecido, seu movimento natural era tomá-lo pelo braço. Ele sempre começava a conversa com uma pergunta: “Como vai, amigo?”, “Como vai a vida?”.
Ramez Tebet era apaixonado pela vida, e foi essa paixão que o conduziu por todos os caminhos. Filho de imigrantes, brasileiro de primeira geração, imagino que o Ramez Tebet menino não poderia imaginar aonde os seus passos iriam levá-lo, da Prefeitura de Três Lagoas à Assembleia Legislativa e ao Governo do Estado, onde seria um dos primeiros militantes da

Campanha das Diretas. Talvez o Ramez menino não imaginasse que viria a ser Senador, Ministro, Presidente do Senado e do Congresso.  Por toda a vida, lutou por este País, cultivou fecundas amizades, amou. Casou, plantou sementes, deixou quatro filhos e pôde acompanhar os primeiros passos de seus netos. Os que o conheceram lembram, dele, a vocação para o diálogo, a firmeza de convicções, o amor pela Justiça (como advogado e promotor quanto como professor de Direito)

Para mim, sua maior característica era a esperança, e a certeza inquebrantável, que tinha em seu coração, de que o hoje, pelo trabalho comum, pode ser melhor que o ontem; e o amanhã, sem dúvida, será melhor que o hoje. Ainda menina, viajamos juntos nos mesmos trens da vida, que nos levavam de Três Lagoas para a capital, e também para outros mundos, para outros quintais.

O balanço do trem e suas mãos firmes me acalentavam. Foram muitas as estações comuns. Também pude ser Prefeita, Deputada Estadual, Vice-Governadora, Governadora (por alguns dias), e, agora, posso ocupar o mesmo pedaço de chão, a tribuna do Senado, que ele ocupava para defender o Brasil.
Pelo Túnel do Tempo, ele caminhava devagar e assobiava. Guardarei por toda a vida o som dos seus passos, o som desse assobio.

*É ex-prefeita de Três Lagoas e senadora