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Resgatar a Ética

Ética, nos dias de hoje, é um assunto démodé. As relações atuais entre políticos detentores de mandato e aquelas entre profissionais que fazem parte de um mesmo agrupamento de pessoas são uns dos exemplos mais eloqüentes do que acima afirmamos.
Vejam, por exemplo, a composição débil do atual Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e o discurso público dos seus componentes no sentido de amainar investigações em torno de parlamentares acusados de práticas ilegais e imorais.
Rondam sobre as instituições ondas negras de contemporização em favor daqueles que agem à margem da lei e da moral.
O Presidente da República contemporiza, agindo como um suposto paizão que passa a mão nas molecagens perversas do filho mal-educado. O Supremo Tribunal Federal contemporiza, com todo respeito e reverência que merece aquela nobre e quase sagrada instituição democrática (o episódio do bate-boca entre os eminentes Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa é emblemático).
Contemporizar é preciso apenas quando a insignificância dos acontecimentos, apenas quando o lado desavisado e demasiadamente humano do homem aflorar.
Nesta ordem de idéias, penso que a conduta dolosa (deliberada, intencional) é que exige punição.
A nação está com sede de alguma diretriz ética, mínima que seja. Até os bandidos gozavam de algum tipo de ética; a “ética” deles é bem verdade. No caso da nossa cidade: lograram assaltar o prefeito com requintes cruéis; assaltaram uma loja revendedora de jóias no shooping!
A nação está confundindo cortesia, respeito e espírito de corpo por acobertamento.
A internet, neste tema, está fazendo o papel contrário do apregoado por aqueles que a defendiam como meio de fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Por meio deste veículo de comunicação, a pretexto de imprimir transparência, as instituições se divulgam e proclamam suas virtudes. E fica nisso.
Mas para que seja resguardada a vitalidade da democracia, penso ser de rigor que seja estabelecida, no universo virtual, uma mão-dupla de comunicação, efetivamente dialética, viva, bilateral.     
O outro lado da moeda… Os mal advogados, por exemplo. Porque não querem pensar “recortam e colam”. Porque não gozam de competência para amealhar clientela bisbilhotam na rede os processos e clientes que lhe são convenientes, e como verdadeiros impostores atravessam o trabalho sério de outros colegas.
Essa minoria, quer de parlamentares, quer de advogados, para ficar nos dois exemplos acima, não recebe punição. E quando recebe, a divulgação institucional é pobre, tímida e desproporcional à gravidade da conduta. Os colegiados éticos parecem estar sofrendo de alguma espécie incompreensível de letargia, derivada talvez do ranço populista que impera no país e na consciência coletiva de boa parte de quem tem o poder de comandar.  
Isso é perigoso para a vitalidade do Estado Democrático de Direito e é por isso que as instituições devem ficar atentas, sob pena de banalização de conceitos éticos, banalização de conceitos morais, banalização de conceitos legais… enfim, a própria “banalização do mal”, como já diria Hannah Arendt. 
 

Ricardo Trad Filho é advogado