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Opinião

Sem cuecões nem calcinhas

Durante manifestações do Dia Internacional da Mulher, a ministra Dilma Rousseff, aproveitando bem a oportunidade e o predicado feminino, saiu em campanha: “Eu digo que o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente, e as mulheres também estão preparadas para isso".  
Ora, em que mudaria o Brasil ter uma mulher presidente se ela for a continuidade de um continuísmo político e administrativo que vem desde muito antes dela? Da política do compadrio; do peleguismo institucional; do aparelhamento do Estado pelos companheiros dos eleitos; dos desvios de verbas públicas para financiar campanhas; da transformação do Congresso Nacional em balcão de negociatas; do loteamento dos cargos pelos partidos aliados; da conivência com os erros e equívocos do governo anterior? Nada!
O que precisamos é de uma mulher vestida em vestes novas, com uma nova mentalidade, com uma nova forma de fazer política e enxergar uma nação, apontando novos caminhos, novas formas de governo, distante de tudo aquilo que nos dilapidou durante anos de ingerências, prevaricações e corrupções.
Nós sonhamos é com uma mudança verdadeira, não apenas uma plástica em nossa verdade, ou um botox barato aplicado em nossa história. Isso é tão antigo quanto a política terceiro-mundista que nos assola, aquela que nos dá pão e circo, mas nunca a condução do eterno picadeiro de nossas desilusões humanas.
Nós sonhamos é com uma mulher que venha trazer algo de novo a um país, a um povo, que venha trazer um alento, um tempo de paz, que saiba administrar a casa e direcionar os caminhos de todos aqueles que nela vivem. Uma mulher que tenha a sabedoria de uma mãe e a convicção de uma guerreira, e que seja capaz de dar a própria vida pelos seus filhos.
Como diz a reveladora passagem bíblica: “Não se pode deitar remendos novos em vestes velhas”. O que adianta um governo velho com roupas novas? Ou roupas novas em um governo velho? O novo não é a novidade da festa, mas sim a lucidez da ressaca.
Acredito que o Brasil está preparado para ter uma mulher presidente, uma mulher que apresente uma maneira nova de fazer política, uma forma diferente de comandar o país, os sonhos de um povo. Uma mulher que venha para mudar, não apenas encerar a casa e lustrar os móveis, mas, sobre tudo, descortinar as janelas em direção a um novo tempo.

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor