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Opinião

Sim, nós também podemos!

Poder público pede contenção de gastos, enquanto a educação clama por atenção

* Por Bruna Daiane de Oliveira da Silva e Aldo Aranha de Castro

 

A desigualdade social é um dos maiores problemas de nosso país atualmente, que talvez não tenha sido resolvido ainda porque o poder público não consegue visualizar a raiz. A educação, sem dúvida, é o que pode transformar essa situação.

O poder público pede contenção de gastos, enquanto a educação clama por atenção. Talvez o sistema educacional brasileiro esteja atendendo à “proposta” de Derek Bok, ex-reitor da Universidade Harvard, dos Estados Unidos: “Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância.” Isso se torna claro porque é bem mais fácil dominar a classe com maior déficit de conhecimento e baixa escolaridade.

O art. 3º da Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, defende, no seu inciso III: “a erradicação da pobreza e da marginalização, e redução das desigualdades sociais e regionais”, o que muitas vezes não é realizado. Acredita-se que, se o poder público investisse massivamente na educação nos anos iniciais da formação do cidadão, não seria necessário, futuramente, o investimento excessivo e assíduo em segurança, unidades prisionais, bolsas-auxílio, combate às drogas e à marginalização. Seriam formados cidadãos com consciência do papel, importância e poder que têm na sociedade. É admirável que tentem tirar a população da pobreza por meio de auxílios em dinheiro, alimento e outros bens. Isso a ajuda momentaneamente, porém só a educação transforma e liberta.

Como afirmou Mario Sergio Cortella, filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro: “O adolescente infrator será sempre resultado de uma sociedade que descuida das suas crianças e jovens. É preciso terminar esse ciclo de vitimação: a sociedade abandona, cria uma vítima, que é a criança, e essa mesma criança cria outras vítimas quando começa a furtar, roubar, violentar, assassinar.”

Seria um ato de hombridade do poder público resgatar a dignidade humana de pessoas de vários lugares do país e ajustar a desigualdade social por meio da educação, valorização das escolas públicas e, além disso, de seus profissionais. Podemos afirmar que a educação está em crise, e precisamos de uma revolução nos processos de aprendizagem.

Segundo Augusto Cury: “O futuro da humanidade depende da educação. Os jovens de hoje serão os políticos, os empresários e os profissionais de amanhã. A educação não precisa de consertos, precisa passar por uma revolução. […] O caos da humanidade é reflexo do desprezo que as sociedades modernas têm pela educação. Nos discursos políticos a educação está em primeiro lugar, na ação concreta está em último.”

Levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo, apresentado em 21 de novembro de 2012, no Editorial, sob o título “O preço da ignorância”, mostrava, com base em 962 escolas da capital, “que, de 2001 a 2012, as matrículas na rede pública caíram 14%; no mesmo período, aumentou em 147% a quantidade de crianças em instituições com mensalidades de até R$ 500 (nas mais caras, 15%).”.

É importante lembrar que a escolarização é uma parte da educação. A família tem papel fundamental e imprescindível na formação de um indivíduo de boa índole. Mas, neste momento, faz-se necessária a seguinte pergunta: “Como a família fornecerá a base para um indivíduo de boa índole se não recebeu a devida educação?” Podemos afirmar, então, que a falta de educação realmente é a raiz da maioria dos males.

No editorial mencionado, afirmava-se ainda: “A educação exerce também um efeito em cascata. O nível de escolaridade dos pais pesa muito no desempenho escolar dos filhos. As gerações futuras tendem a se beneficiar do esforço da presente.”

Se algumas pessoas acham absurda a comparação e a busca de um sistema de qualidade semelhante à de países desenvolvidos, como a dos Estados Unidos, por que não citar a jovem empreendedora brasileira de sucesso, Bel Pesce, que, aos 27 anos, evidenciando a importância da dedicação e educação em sua vida, garante: “[…] Isso é bem interessante, eu mesma tenho uma história no Brasil que as pessoas acham que foi sucesso da noite para o dia. Eu venho de uma família humilde, e dois dias antes do prazo para se candidatar ao MIT, comecei minha inscrição. E pronto! Eu fui aceita. As pessoas podem achar que foi da noite para o dia, mas só deu certo porque, nos 17 anos anteriores, eu levei a sério minha vida e educação. Sua história de sucesso da noite para o dia sempre é resultado de tudo o que você fez em sua vida até aquele momento.”. Bel venceu! Qual “destino” teria se tivesse se descuidado da educação? Não se trata apenas do sucesso. A história de Bel serve para mostrar que a educação pode sim transformar vidas. A educação transforma, liberta, produz cidadania, pode melhorar uma pessoa, pode mudar o mundo! Pode resolver a desigualdade social.

Eduardo Campos, economista e político brasileiro,candidato à Presidência da República em 2014, falecido em acidente aéreo durante a campanha, disse: “Educação é a chave para libertar pessoas, famílias e comunidades da pobreza de uma vez por todas.”

Por enquanto, o que resta é seguirmos lutando, aguardando respostas quanto aos problemas sociais, por meio de uma revolução na educação brasileira. Em consequência de nossas próprias escolhas políticas, ao optarmos por determinados candidatos, continuamos a caminhar por entre o caos brasileiro, resultado de uma gestão mal planejada e que não trata a educação com a devida atenção. Esperamos, todavia, parafraseando Barack Obama, um dia poder dizer, com orgulho de sermos brasileiros: “Sim, nós também podemos!”.

 

* Bruna Daiane de Oliveira da Silva: Acadêmica do curso de Administração da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.

* Aldo Aranha de Castro: Professor do curso de Direito da UFMS – Campus de Três Lagoas/MS.