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Solidariedade e respeito à autonomia do povo até que todas sejamos livres

Assim o Jubileu Sul/Américas e a Marcha Mundial das Mulheres apelam à solidariedade para com o povo haitiano. Um terço da população (três milhões) foi afetado pelo grande terremoto. Outros abalos sísmicos ainda estão ocorrendo. É preciso responder com urgência: o povo não pode esperar, mas tropas estadunidenses se esmeram dificultando a chegada da ajuda humanitária, conforme denúncia do “Médicos Sem Fronteiras” e da Cruz Vermelha. Ocupam o aeroporto, impedem o pouso de aviões de ajuda humanitária, despejando 10 mil soldados para comprometer a autonomia do povo haitiano. 20 helicópteros militares pousaram no pátio do palácio presidencial.
Como sempre, as mulheres são as que pagam o preço mais alto. Mais de três mil mulheres grávidas perderam suas casas e circulam pelas ruas em busca de água e comida. Estupros e outras violências de gênero já eram freqüentes antes do trágico terremoto. É o que ocorre com maior intensidade quando um país é ocupado por forças estrangeiras.
Durante a última Ação Global da MMM (Marcha Mundial das Mulheres) no dia 8 de março de 2005, 30 mil mulheres se concentraram no vão livre do MASP (Museu de Artes de São Paulo), na avenida Paulista, para dar início à Grande Marcha de Mulheres que, após percorrer 53 países, chegaria, no dia 17 de outubro em Burkina FAso.
A Carta das Mulheres para a Humanidade e a Colcha confecionada por mulheres da MMM de 53 países, não pode ser recebida pelas mulheres dos Grande Lagos (África) porque um grande conflito bélico tomara conta da região. Muitas foram estupradas por soldados das forças de ocupação. Armas chegavam constantemente para enriquecer ainda mais as indústrias bélicas.  Colonizadores de ontem e de hoje alimentavam a discórdia para massacrar a população e dominar o solo rico em minérios. Apenas três anos após o previsto, mulheres da região conseguiram se organizar e receber a Carta e a Colcha. Faziam questão de tocar a colcha, para elas, símbolo da solidariedade das mulheres do mundo todo.
Igualmente, as forças da MONUC (Missões das Nações Unidas na República Democrática do Congo) espalham o terror entre a população, atingindo principalmente mulheres e crianças. As Ações 2010, programadas pela Marcha Mundial das Mulheres terão início em 8 de março em cerca de 60 países. O encerramento será nos dias 16 e 17 de outubro, exatamente na República Democrática do Congo para que demonstremos o repúdio à ocupação e apresentemos a solidariedade de nós, mulheres do mundo todo.
Durante o Encontro das Américas da Marcha Mundial das Mulheres, decidimos pela exigência da retirada das forças da MINUSTAH (Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti) que age de modo semelhante à MONUC.
Vamos apresentar nossas exigências na reunião de Ministros dos países doadores que ocorrerá no dia 25 de janeiro próximo em Montreal. Tememos que as doações sejam vinculadas a imposições e exigências sobre os modelos de reconstrução e se convertam em novas dívidas, como soe acontecer. No Iraque, as várias empresas de construção, desde o início da invasão militar estadunidense, já haviam distribuído entre as empreiteiras (principalmente estadunidenses) lotes para reconstrução com dinheiro da ajuda internacional.
Camille Chalmers teve sua casa destruída mas sobreviveu e nos informa que, no terremoto, perdemos  as companheiras haitianas da Marcha Mundial das Mulheres: Magalie Marcellin do Kayfanm e Myriam Merlet, militante feminista e atual encarregada do Ministério das Mulheres. Magalie Marcellin trabalhou muito para organizar a MMF (Marche Mondiale des Femmes) no Haiti e esteve presente no I Encontro da MMM em Quebec em 1998, além de participar da Ação 2005.  Apresentamos nossas condolências e fazemos o compromisso de desenvolver ações concretas de solidariedade. As coordenações nacionais da MMM estão empenhadas em fazer chegar nossas doações diretamente às haitianas.
Compartilhamos com o heroico e resistente povo haitiano o luto e solidariedade, com a certeza de que o país ressurgirá livre e soberano. Continuaremos em marcha até que todas sejamos livres.

Iolanda Toshie Ide é professora