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Três falácias do momento brasileiro

A generosidade de um querido amigo faz-me chegar as mãos uma plaqueta do Fórum Roberto Simonsen, de 1957, contendo uma admirável conferencia de Roberto Campos a empresários paulistas, com o título que aproveitei para este artigo.
Realmente, decorridos mais de meio século das palavras sábias do grande e inesquecível brasileiro, estamos na mesma situação, amarrados aos mesmos preconceitos, que travaram o desenvolvimento econômico e social do nosso país. Avançamos pouco no que toca a mentalidade das elites políticas e do sentimento popular em relação a percepção do que é o real interesse nacional, o que efetivamente atende a melhoria das condições de vida de nosso povo.
O mais incrível, é que do governo JK até a Constituinte de 88, o Brasil cresceu em taxas entre as maiores do mundo, na média anual. Diversificamos a pauta de exportações, abrimos a economia a partir do Governo Collor, nosso PIB passou de 46 para 8 no mundo, entre 64 e 85,  apesar  da mentalidade nefasta  denominada vagamente de “nacionalista”, numa sociedade que não poupa e dificulta a vinda da poupança  internacional. Nossa taxa de poupança interna vem se mantendo inalterada e em níveis inferiores ao necessário para um desenvolvimento sustentado. Nada se faz para criar o espírito poupador, inclusive via mercado de capitais através do estimulo as emissões de ações das maiores empresas, que afinal respondem por boa parcela do PIB. Seria reforçar o caixa dos grandes empregadores, a custo baixo e criando o hábito da poupança. Nosso mercado é dos mais tributados do mundo, a começar pela bi-tributação dos dividendos. 
Roberto Campos já chamava a atenção para o valor do investimento privado, nacional ou estrangeiro, para liberar os recursos públicos para seus serviços essenciais de saúde, educação e segurança.  Lembrava que nossos recursos minerais não eram – e não são ate hoje – aproveitados em beneficio do país, por restrições a quem possui capital, tecnologia e mercado, nos limitando a uns poucos minerais, como o minério de ferro, em estado bruto. Só se pensa em tributar o setor, que poderia estar tendo valor agregado por tecnologia de ponta, como no mármore, nas pedras preciosas.
Hoje o capital anda escasso, arredio em relação aos países sem tradição capitalista, mas mesmo assim nada é feito para modificar a legislação trabalhista desencorajadora, as barreiras fiscais, ambientais e juridicas. Estamos olhando mais para os maus exemplos do que para a realidade. Quem viver verá, sem precisar esperar muito, em que vão dar as experiências falaciosas da Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador e Paraguai. Vão mergulhar em dificuldades imensas.  E vão querer que paguemos parte destes erros.
A mais, choca a maneira  com que se  monta um quadro de intimidação ao empresário, alvo de precipitadas e ousadas ações policiais , com respaldo num Judiciário que demonstra , por vezes, um viés ideológico assustador . As entrevistas do Delegado Protogenes, que  conta de sua ligação com o antigo Partido Comunista – hoje PPS -explicam algumas de suas operações  espetaculares , sempre sob a mira dos holofotes da mídia . Incrível a satisfação com que um membro do Ministério Publico  explicou a prisão da empresaria Eliane Tranchesi , quando assassinos conhecidos  circulam pelas ruas de São Paulo , com cobertura judicial . Violência e covardia, dentro desta mentalidade  de se criar a luta de classes – e até racial – entre brasileiros . A própria mídia é cúmplice quando  trata de leve o emprego fantasma no Senado da filha de FHC e bate na senadora Roseana Sarney, cujos cargos públicos  foram obtidos através do  voto popular . 
É preciso reler Roberto Campos para se entender os perigos que nos rondam. Estes culpados, que existem, podem não ter olhos azuis, mas certamente a cabeça vermelha, hoje tolerada em poucos e pobres países.


Aristóteles Drummond é jornalista, administrador de empresas e relações públicas