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Editorial

Uma realidade bastante previsível

Confira o editorial do Jornal do Povo, na edição que circula neste sábado (16)

Quem mora ou de alguma maneira acompanha a vida pública de Três Lagoas há pelo menos 20 anos deve ter compreendido sem dificuldade os motivos que levam o PMDB local ao desgaste e à perda de força política, verificados na preparação das eleições de outubro. Quem constata pela primeira vez esta situação tem absoluto direito a várias interrogações e questionamentos. 

O cenário é intrigante. O partido que domina o Poder Executivo municipal há duas décadas, que teve por herança o trabalho do senador Ramez Tebet, conseguiu eleger sua sucessora Simone para o Senado e atuou para a eleição de um deputado estadual, hoje não tem um nome sequer para disputar a prefeitura e, com dificuldades, terá uma chapa diminuta de candidatos a vereador, além de ser rejeitado em coligações tentadas com outras siglas.

E as razões para isso são variadas. O PMDB não manteve hegemonia em torno dos nomes que poderia, agora, trabalhar para eleger. Pulverizou-se e achou que dominaria enquanto contribuía com o fortalecimento de adversários. As falhas não brotaram apenas no Executivo, onde teve a oportunidade de consolidar sua presença, mas também no Legislativo, onde a atuação parlamentar/política foi abaixo da crítica. 

O desgaste das lideranças peemedebistas é notório e indisfarçável. A frustrada tentativa de criar um bloco com outras 10 siglas, em maio, com direito a formar a dupla de candidatos a prefeito e a vice, deixou claro que peemedebistas não dão mais as cartas, como no passado e nem como imaginam. É evidente que o partido já sabia de sua condição e que, por isso, tenta atracar seu barco no primeiro porto que encontrou. Não deu certo.

O resultado dessa articulação não poderia ser outro senão o esfacelamento da parceria, a começar pela tentativa de criar a dupla que lideraria a chapa majoritária, ignorando o resultado de uma pesquisa nunca tornada pública que indicaria exatamente o contrário. Trocando em miúdos, o PMDB tentou fazer valer sua vontade num ambiente em que teria sido apenas mais um convidado e onde teria chegado por último. Erros de estratégia e falta de humildade.

Frustou-se em outra tentativa de integração de novo bloco – este já sem a presença de figuras que aparecem nas fotos do primeiro. Também não deu certo. O que sobra, então, é a inédita condição de ir às urnas, em outubro, com uma dúzia de candidatos a vereador e sem nenhum nome para prefeito e vice de Três Lagoas. 

Além de deprimente, o cenário era previsível. A prefeita Márcia Moura deixou bem claro, há bastante tempo, que não concorreria. E são diversas razões para tanto, além de uma conclusão própria da chefe do Executivo de que já deu sua parcela de contribuição à cidade. O PMDB não viu isso? Márcia Moura ecoou sua posição aos quatro cantos da cidade bem antes da abertura deste período eleitoral. Não sabia?

Hoje, sufocado por lideranças que se formaram na elite política local, associadas a grupos de pessoas daqui ou ao governo estadual, o PMDB padece de situação absolutamente diferente da que dispunha há alguns anos, quando administrava uma cidade bem mais carente de desenvolvimento que hoje e que sabia como exercer domínio político. 

A esta situação absolutamente previsível somem-se o desgaste da sigla em nível nacional e a força política do governador tucano Reinaldo Azambuja. Enquanto peemedebistas viram seus nomes metidos em processos da Lava Jato, Azambuja tornou atos governamentais em ferramentas de trabalho, numa fórmula perfeita de crescimento político e de assistir de camarote o enfraquecimento de adversários.