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Entrevista

Medo da dor afasta mulheres de optar por parto normal, afirma enfermeira

Mesmo recomendada pela Organização Mundial da Saúde, técnica de nascimento natural ainda enfrenta resistência e mitos

Apesar dos benefícios do parto normal, o Brasil lidera o ranking dos países da América Latina em cesarianas. De acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), nos hospitais privados, cerca de 85% das mulheres fazem parto cirúrgico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que, no máximo, 15% dos partos sejam cesarianas.

As cesáreas são indispensáveis quando se apresentam complicações, como hemorragias, sofrimento fetal ou posição anormal do bebê. Mas também representam riscos como uma recuperação mais complicada para a mãe e problemas nos partos seguintes (gravidez ectópica, desenvolvimento anormal da placenta, entre outros).

O parto normal é aquele em que o bebê nasce por via vaginal, sem nenhuma intervenção cirúrgica. Esse tipo de parto é benéfico, pois pode diminuir os riscos tanto para a saúde da mãe quanto do bebê em gestações de baixo risco, além de ser recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde).

Aline Gonçalves Pereira de Lima, enfermeira chefe da maternidade da Santa Casa de Paranaíba, destaca que muitas mulheres tem escolhido cada vez mais o parto humanizado.

Jornal do Povo – O que é o parto humanizado e qual aparato é necessário?

Aline Gonçalves Pereira de Lima – O parto humanizado é a mesma coisa do parto normal. Muitas mulheres já chegam com evolução para o paro normal e quando é primípara [mulher que vai parir pela primeira vez] seguimos todos os protocolos com incentivo ao parto natural. Seguimos todos os protocolos do SUS [Sistema Único de Saúde] e vamos avaliando a evolução. Temos uma bola de pilates, banheira e o chuveiro que ajudam bastante. São medidas não farmacológicas para o alívio de dor. 

JP – Em quais tipos de casos é indicada a cirurgia cesariana?

Aline – Nos casos em que o médico avalia e a paciente não está evoluindo, mas sempre que é uma paciente que engravidou pela primeira vez o médico vai incentivar a ter o parto normal. Mas a indicação da cesariana é para casos de um RN (recém-nascido) que está com mecônio (fez cocô) na barriga da mãe, ou o bebé que não está na posição correta, como sentado ou com o pé na frente.

JP – Falta conhecimento para as mulheres optarem pelo parto normal? Qual o maior receio?

Aline – Falta conhecimento, a demanda do pré-natal é pouca. As pacientes chegam muito leigas, e na visão da maioria a cesárea é bom pois ela não vai sentir dor. Mas hoje existem outras medidas para mostrar que podemos aliviar a dor sem precisar ir para uma cesariana. No pré-natal deveria ser mais divulgado e conversado com estas gestantes sobre este tipo de parto. O medo delas é a dor, ou o bebê não nascer e não ter força para ajudar o bebê a nascer.

JP – A preparação da equipe é importante para a decisão da gestante?

Aline – As gestante precisam ter a consciência de que se haver uma intercorrência nesta evolução do parto a equipe está preparada para encaminhar para uma cesárea, mas o medo do parto normal é uma cultura e não conhecem o processo natural.

JP – Há parto sem dor?

Aline – A dor é que vai ajudar o bebê a nascer, mas antes temos diversos equipamentos para ajudar. Muitas gestantes relatam que a banheira, por exemplo, aliai muito a dor e ajuda no trabalho de parto,. Não tem como não doer, mas o neném nasceu e acabou. A cesariana você vai ter um corte na barriga, risco de infecção, dificuldade de levantar, talvez não conseguir ajudar o bebê por conta do corte na barriga.