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A angústia de quem espera por Justiça

A entrevista aconteceu na casa de Adalgiza, a poucos metros do local do crime

A aposentada Adalgiza Fernandes de Souza, 54 anos, é uma das muitas que perderam um filho para a violência e que espera por Justiça. A filha dela, Sonia Fernandes de Souza, 21 anos, foi morta no dia 12 de março, na rua Anis Irabi, bairro Paranapungá. O crime ocorreu durante a madrugada, a 30 metros da residência dela. Agalgiza estava em casa quando um vizinho chegou na casa dela e deu a “notícia”. “A dor é tão terrível que não há palavras para descrever o que senti. Eu estava em casa, mas não ouvi nada. Quando cheguei ao local. Vi minha filha, caída, ensaguentada. Passei por tudo sozinha, meus outros filhos não estavam em casa. No caminho para o hospital, ela me disse: Vou morrer. Foram as últimas palavras dela. Dizem que ela chegou a ser internada na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas não sei. Foi muito rápido, quando cheguei em casa novamente. Me ligaram dizendo que a minha filha havia morrido”.

A entrevista aconteceu na casa de Adalgiza, a poucos metros do local do crime. Sentada na cadeira de área e rodeada pela outra filha, Simone, pela mãe, e dois netos. A mãe conta que o crime ocorreu há seis meses, mas até o momento, a polícia não tem suspeitos do culpado. Conforme divulgado na época, o crime teria sido cometido por uma pessoa de bicicleta.

AUTOR IMPUNE

O autor seguiu Sônia do final da avenida Eloy Chaves até o ponto, onde efetuou dois disparos pelas costas da jovem. “O que me revolta é não saber quem fez isto contra a minha filha. A polícia ainda não tem nada e tiveram outros crimes depois, que já foram solucionados. A única coisa que me conforta é saber que o assassino não escapará da Justiça de Deus, e esta, e a maior de todas”.

Aldagiza conta que seis meses depois, a dor ainda permanece. “Nunca imaginei perder minha filha dessa forma. A dor não passa. Acho que é assim com todas as mães que perderam um filho desta forma. Com o tempo, a gente se acostuma com o sofrimento, afinal a vida tem que continuar, mesmo que a gente não queira”.

A mãe descreve a filha como rebelde, mas pede para não entrar em detalhes.

“Ela era meio rebelde com os outros, é só isso que posso falar. Mas, não comigo. Esta casa era o refugio dela. Ela era minha companheira. Minha e da minha mãe, tudo que íamos fazer, fazíamos juntas. Também tinha o costume de cantar pela casa, era muito alegre. Me esforço muito para tentar lembrar uma música se quer, mas não consigo”.

A mãe completa: “Tudo faz falta. Não há um dia se quer que não me lembre dela. Quando estou na cozinha, preparando um almoço, lembro que era o que ela gostava de comer, ou que ela queria. É o dia todo. Às vezes, a saudade é tanta que corro para o cemitério para visitar o túmulo dela”, conta enquanto mostra o álbum de fotografias da família à equipe de reportagem.

Lembranças de uma vida

“Aqui, é a Sônia na escola municipal Maria Eulália Vieira”, informa Adalgiza Fernandes, ao mostrar o álbum de fotografias da família. A foto mostrava Sônia, ainda na infância, em um tipo de aula de culinária, de branco, sorrindo, entre pacotes de farinha de trigo e amido de milho. Em seguida, a mãe mostra uma fotografia da jovem, a mais recente tirada pela família, formato 3X4; a foto foi colocada do túmulo da filha. “Ficou muito linda”, completa, ainda olhando para a imagem.

O álbum continua a correr, até que Adalgiza para novamente: “Este é o filho da Sônia. Ele tem seis anos e mora com o pai”. A mãe fala que a presença do neto é confortante, mas não substitui a filha. “Não chega nem perto. Nenhum filho substitui o outro. Você pode ter até dez, 20 filhos, um não substitui o outro”.

Foi nesse momento que a mãe de Adalgigza, sentada num banco de madeira, sentada num banco de maneira, até então chorando em silêncio, resolve desabafar: “Ô menina que me faz falta. Amo meus outros netos. Mas, eles estão aqui e ela não”. Há oito meses, Sonia dormia com a avó para fazer-lhe companhia. “Sempre penso que ela vai voltar, mas não volta. Não tem volta”, disse a avó, olhando para o portão.

Adalgiza mantém todas as coisas de Sônia do jeito que estava antes de ser assassinada. Alguma roupas, foram lavadas e guardada pela mãe, outras, ainda contem o cheiro da filha.

 “Tudo dela está aqui do jeitinho que estava antes. Algumas roupas eu guardei até com suor mesmo. E só vão poder tirá-las de mim quando eu morrer”.  Até hoje, Adalgiza não consegue passar pela calçada em que a filha foi morta. Para ela, é como se estivesse pisando na jovem.

Segundo divulgado na época, Sônia sofria de dependência química. Ela também havia sido vítima de um espancamento dias antes de ser assassinada.

Até o momento, a polícia ainda não tem pistas sobre o assassino de Sônia.

Segundo o delegado Ailton Pereira de Freitas, coordenador da Delegacia de Investigações Gerais (Dig), na época, alguns suspeitos foram checados pela polícia, porém, não houve a comprovação da participação deles. A morte de Sonia permanece sem autoria.