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Sem resposta, adolescentes acusados de assaltos são libertados

Sejusp não cumpriu o prazo de cinco dias para determinar a transferência dos infratores

Os adolescentes apreendidos em flagrante pela Rondas Táticas do Interior (Rotai) por assalto a mão armada, tiveram de ser liberados após vencer o prazo de permanência na carceragem da 1ª DP.

A apreensão dos adolescentes aconteceu na noite da última quinta-feira (19), quando a dupla – acompanhados de um acusado de 19 anos – invadiu uma residência e fizeram três moradores reféns. Um dos adolescentes estava armado com um revólver calibre 38. A ação criminosa foi interrompida com a chegada da Polícia Militar – uma denúncia anônima alertou os militares sobre o assalto em andamento.

O trio foi preso ainda na residência. Com eles, foram apreendidos vários objetos de valor das vítimas e o revólver utilizado no crime. Os moradores foram trancados em um banheiro, onde permaneceram até serem libertados pelos militares.

Os dois adolescentes foram autuados em flagrante e apreendidos em uma das celas da carceragem do 1º Distrito Policial até a última terça-feira (24). De acordo com o delegado Vitor José Fernandes Lopes, por conta da interdição parcial da Unidade Educacional de Internação (Unei) de Três Lagoas, na semana passada, a Justiça Estadual baixou uma portaria determinando que os adolescentes apreendidos fossem mantidos nas delegacias por cinco dias, prazo para que o Estado consiga vagas em outras unidades. Em caso de descumprimento, os adolescentes deveriam responder em liberdade.

Os dois adolescentes citados nesta reportagem foram os primeiros a serem submetidos à nova medida, e foram libertados. Para o delegado titular da 1ª DP, Eraldo Coelho, a apreensão na véspera de um fim de semana pode ter influenciado na medida. “Fizemos todos os procedimentos necessários, mas, por ser o primeiro caso, e também em um final de semana, pode ter atrapalhado um pouco o processo. Estes garotos foram apreendidos em uma quinta à noite. Na prática, o Estado teve apenas dois dias para buscar vagas”, concluiu.

O delegado Vitor completou: “Assim que apreendidos, entramos em contato com a coordenadoria para a solicitação de vagas. Mas não tivemos respostas até o vencimento do prazo e por conta disto, os adolescentes foram entregues aos pais. Eles saíram da delegacia na manhã de terça e a Justiça foi comunicada. No entanto, isto não quer dizer que estes garotos ficarão impunes. Eles responderão pelo delito em liberdade e, caso condenados, poderão ser recolhidos em alguma Unei”, lembrou.

O Regional reforça ainda que a liberação de adolescentes infratores não será uma regra, ou pelo menos é o que se espera. “Isto não quer dizer que todos os outros serão liberados. A Polícia Civil tem esperanças que irão conseguir vagas para os adolescentes apreendidos no futuro”, completou.

No entanto, a afirmação pouco serviu de consolo para o empresário M.Z, 34 anos. O proprietário da lan house, situada na rua Oscar Guimarães, foi vítima de um assalto na noite de quarta-feira (25). “O que chamou a atenção é que a lan estava lotada e havia muitas pessoas na rua. Isto mostra que eles perderam o medo. O rapaz entrou e colocou uma arma na minha cabeça”.

Embora o estabelecimento estivesse lotado, foram poucas as pessoas que perceberam a ação dos bandidos: três clientes, porém  uma delas não lembrava o telefone da Polícia Militar para pedir ajuda. O assaltante tinha o rosto bastante coberto, com camiseta, capacete e um moletom com capuz, e estava armado com um revólver. “A ação foi muito rápida, mas percebi que ele estava bastante exaltado, agressivo”.

O bandido fugiu com cerca de R$ 15 em dinheiro – ele deixou um saco de moedas para trás. Um comparsa que o aguardava do lado de fora, em uma motocicleta de cor escura.

MEDO

Esta foi a segunda vez que a lan foi alvo de bandidos apenas neste ano. No primeiro assalto, os bandidos foram “mais educados”, segundo a vítima, mas “levaram mais dinheiro”, relembrou.

M.Z. não descarta a possibilidade de ligação entre o assalto com o mutirão carcerário e interdição das duas unidades penais de Três Lagoas: Unei (parcialmente) e semi-aberto (integral). “Agora tem muita gente estranha nas ruas. É visível. Um dia antes do assalto mesmo, vimos três jovens rondando as bicicletas que estavam paradas em frente à lan. Avisamos a todos os clientes e, quando eles foram averiguar, os três fugiram correndo”.

Aos 17 anos, um dos adolescentes liberados pela Justiça por falta de vagas nas Uneis de Mato Grosso do Sul tinha passagens pela polícia por tráfico de drogas, porte ilegal de arma, furto, lesão corporal e, o mais recente: roubo. O segundo não tinha passagens pela polícia até o assalto.

A Polícia Civil também teme que, se não houver liberação de vagas nas Uneis, outros adolescentes se sintam encorajados para praticar crimes.