Veículos de Comunicação

Universalizar Aulas

Aulas remotas excluem alunos de baixa renda sem acesso à internet

Vereador Gilmar Garcia Tosta afirmas que a melhor maneira das aulas chegarem até os alunos é pela TV aberta

Caderno e caneta são ferramentas básicas que possibilitam qualquer estudante participar de uma aula tradicional, na forma presencial. No entanto, isso muda completamente quando se trata de aulas remotas. O ensino à distância necessita de internet em casa, computador ou, no mínimo, de um celular. Embora o acesso as tecnologias, como internet, computadores e smartphones tenha se popularizado nos últimos anos, nem todos têm a mesma oportunidade, sobretudo nas famílias de baixa renda. 

Priscila Gomes é um exemplo com seus quatro filhos que estudam na Rede Municipal de Ensino de Três Lagoas. Ela conta que não é uma tarefa fácil ensinar os filhos em casa, pois não dispõe de computador. Além disso tem apenas um celular, às vezes não tem internet, e atualmente, está sem bateria. A alternativa é buscar o conteúdo dos quatro filhos na escola.

Quando não está no trabalho, Priscila acompanha os filhos nos estudos em casa. Ela que estudou até a 8ª série, quando não sabe determinado conteúdo recorre à pesquisa na internet. É claro, quando tem.

DIFICULDADE

A dificuldade para ter acesso ao conteúdo on-line é ainda maior nos bairros  de baixa renda, e principalmente nas famílias com mais de dois filhos. Além da dificuldade que os pais tem para ensinar os filhos, conseguir prender a atenção deles para o estudo em casa, não é simples.
Nos conjuntos habitacionais de Três Lagoas, por exemplo, onde moram muitas crianças, o ensino fica  comprometido por falta de estrutura.

Maria Aparecida Machado é professora, mas atualmente não exerce a profissão. Ela tem dois netos, e, por ser professora, tem mais facilidade para ensiná-los. No entanto, ela conta que muitos pais não conseguem ensinar os filhos, sem contar que muitas crianças não tem acesso à internet. “Tem muita criança que vem aqui em casa para eu ensinar. Na medida do possível eu ajudo, mas para muitas pessoas está sendo muito difícil para fazer as atividades”, disse.

PESQUISA

De acordo com a 15ª pesquisa Tic Domicílios, realizada entre outubro de 2019 e março deste ano, pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, 28 milhões de casas não têm acesso a internet e 47 milhões de pessoas não têm acesso à rede. Apenas 57% das pessoas das classes D e E fazem uso da internet. 

Por esse motivo, é que o vereador Gilmar Garcia Tosta (PSB), cobrou providências da prefeitura, solicitando que as aulas da Rede Municipal de Ensino sejam transmitidas pela TVC, já que em todas as casas tem um televisor. Na casa da Priscila Gomes, por exemplo, o único celular está com defeito na bateria, mas a TV está ali, funcionando e prendendo a atenção das crianças.

“Nós estamos há três meses enfrentando uma pandemia, e apesar dos esforços dos professores, o ensino dos alunos da Rede Municipal está muito prejudicado. Muitas crianças não tem acesso à internet, então a melhor maneira, para chegar a todos os alunos é pela TVC, conforme estudo que fizemos. Todas as casas por mais humilde que sejam, tem uma televisão. Essa é a única maneira de universalizar as aulas para esses aluno. Eu ouvi vários professores, e eles disseram que essa é a melhor maneira para as aulas chegarem até os alunos”, destacou o vereador, que apresentou uma indicação formal a prefeitura.

PREFEITURA

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da prefeitura para uma entrevista com a secretária de Educação sobre esse assunto, mas não obteve retorno.

De acordo com decreto municipal, as aulas presenciais na Rede Municipal seguem suspensas até 31 de julho, podendo ser prorrogadas conforme a situação do município em relação a pandemia das Covid- 19. Muitos pais já se pronunciaram que ainda não têm coragem de enviar os filhos para as escolas.

O Conselho Nacional da Educação aprovou nesta semana um parecer com orientações para a retomada gradual de aulas e atividades pedagógicas presenciais. Apesar das sugestões apresentadas, o órgão reforça que o retorno não dará conta de toda a oferta de aprendizado e que a presença do ensino à distância será necessária até, pelo menos, 2021.