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Brasil poderá ter "apagão" na formação de jovens

Pela primeira vez as instituições de ensino superior privado eram convidadas a falar sobre a sua participação no desenvolvimento do país

A necessidade de formação de centenas de milhares de jovens para o mercado de trabalho ao longo dos próximos anos, com a previsão de retomada do crescimento econômico, foi ressaltada por diversos participantes do seminário O Papel da Iniciativa Privada no Ensino Superior: Realidade e Desafios para o Futuro, promovido nesta quarta-feira (11) pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).

A indústria do petróleo estará entre as que mais precisará de jovens, segundo observou a professora Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Conselho Superior de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Apenas para a exploração do petróleo da camada pré-sal, informou, serão criados mais de 225 mil empregos "bem qualificados". Outros milhares de empregos serão gerados na preparação da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, recordou.

– Nós não temos um PAC de qualificação profissional – lamentou Maria Helena, após fazer uma ampla defesa da elevação da qualidade de ensino já na educação básica.

O diretor-presidente do grupo Anhanguera Educacional, Antônio Carbonari Netto, também alertou para a carência de profissionais no futuro próximo. Em sua opinião, o percentual de 13% de jovens que se encontram atualmente na educação superior pode ser considerado "abaixo da linha de segurança nacional". Ele previu que a capacidade de oferta de vagas dobrará nas instituições privadas de ensino superior ao longo da próxima década, apesar da "excessiva regulação" do setor pelo governo.

– Um apagão na formação será inevitável já em 2012 – previu.

Ao abrir o seminário, a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) lembrou que pela primeira vez as instituições de ensino superior privado eram convidadas a falar sobre a sua participação no desenvolvimento do país. O papel dessas instituições também foi ressaltado pelos senadores Flávio Arns (PSDB-PR) e Sérgio Zambiasi (PTB-RS), que foram os moderadores dos painéis realizados pela manhã desta quarta-feira.

A secretária de Educação Superior do Ministério da Educação, Maria Paula Dallari Bucci, reconheceu, na abertura do seminário, que três quartos das matrículas do ensino superior encontram-se atualmente no setor privado. Ela considerou a diversidade das instituições – públicas e privadas – um "valor a ser preservado" e lembrou que, por meio do Prouni, conseguiram ter acesso ao ensino superior 500 mil jovens "aguerridos e sem preguiça, que agarram as oportunidades".

Mesmo assim, como anotaram diversos palestrantes, ainda permanecem dúvidas sobre a qualidade do ensino oferecido por instituições privadas. Ao responder a essas dúvidas, o diretor-executivo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo, Rodrigo Capelato, informou que 86% dos empregados com nível superior nas 500 maiores empresas de São Paulo são oriundos de instituições de ensino superior privadas.

O especialista em educação Cláudio de Moura e Castro classificou o sistema público de ensino superior no Brasil de "caro, pequeno, gratuito e elitizado" – o que levaria ao paradoxo de que estudantes pobres pagam pelo ensino privado, enquanto os ricos estudam de graça. Em sua opinião, a avaliação de qualidade não deveria levar em conta apenas o número de mestres e doutores nas instituições de ensino, mas também a sua experiência profissional.

O atual conceito de qualidade também foi questionado pelo diretor de operações do Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Fábio José Garcia dos Reis. Para ele, qualidade também se mede pela empregabilidade dos alunos formados, assim como por seu empreendedorismo. Ele sugeriu ainda a criação de agências descentralizadas de avaliação de instituições de ensino superior, seguindo o exemplo do Chile.