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Volta do voto impresso pode fragilizar população carente, diz juiz eleitoral

Volta do voto impresso é um dos assunto vem sendo destaque no cenário nacional e preocupa autoridades do Poder Judiciário

juiz explica que auditorias já são feitas nas urnas - REPRODUÇÃO
juiz explica que auditorias já são feitas nas urnas - REPRODUÇÃO

Fraudes nas eleições e a volta do voto impresso vêm ganhando destaque nos últimos meses. O assunto tem causa preocupações em autoridades e políticos, que avaliam os riscos de retrocesso no país. A jornalista Danielly Escher, da rádio CBN – Grupo RCN de Comunicação, conversou com o juiz eleitoral, Olivar Augusto Roberti, sobre essa questão. “Na hora que voltarmos ao voto impresso no Brasil, estaremos voltando ao voto de cabresto, ao voto onde a população mais carente fica mais fragilizada, onde quem tem menos condições, menos instruções, fica mais exposto”. 

Qual sua opinião sobre essas afirmações de que o sistema eleitoral brasileiro tem fraudes? 
O que ouvimos falar é que existe um sistema falho. Mas, na verdade, o sistema não é falho. O que nós temos que fazer é cuidar da nossa performance como políticos, como cidadãos, para que possamos entregar o melhor produto, que é uma democracia para a população. Com todo o respeito aos que falam que o sistema é fraudulento, que tem fraudes. Cometem um grande equivoco mas grande parte da população está agindo com o coração. Só que nós temos que deixar um pouco a emoção de lado e analisarmos de forma racional. E, quando analisarmos de forma racional e vemos, efetivamente, como funciona o sistema eleitoral e as urnas eletrônicas, vamos perceber que é um dos melhores sistemas que temos no mundo democrático. Temos que lembrar que em vários países não temos democracia até hoje.

Porque é importante reforçar que devemos continuar seguindo com o sistema eleitoral? 
Temos que diferenciar entre alegação de fraude e desejo de voto impresso. Quem trabalha no sistema eleitoral sabe que são feitas inúmeras auditorias no que diz respeito ao sistema eleitoral, e no sistema eletrônico. O Tribunal Superior Eleitoral convoca no ano anterior às eleições, pessoas que queiram participar de tentativa de fraudar, de violar o sistema. E elas não conseguem violar porque existe uma série de mecanismos de proteção do sistema eleitoral. 

Quais são esses mecanismos? 
O primeiro é o que coloca o sistema para que terceiros tentem violá-lo. E lembro que isso é aberto para que qualquer pessoa participe e tente a  fraude na urna eletrônica. A segunda questão é que as pessoas, enquanto cidadãs, não querem saber o que acontece em Brasília ou o que ocorre em uma sala onde estão os programadores. Queremos saber o que acontece na urna em que cada um vota. E neste caso, temos que pensar que a urna não é um aparelho que se comunica de maneira online com outros aparelhos. Ela é off-line. O que isso quer dizer? A partir do momento que eu coloco o voto ali, ninguém consegue mexer nele. Mais do que isso, todo dia de eleição, antes de começar a votação, essa urna imprime um demonstrativo de que não tem voto nenhum. No final do dia, ela imprime todos os votos que foram lançados naquela urna. 
É por isso que precisamos melhorar a cada eleição. Por isso que digo que temos que separar fraude em urna e voto impresso, porque na hora que voltamos ao voto impresso no Brasil, estamos voltando ao voto de cabresto, ao voto onde a população mais carente fica mais fragilizada. Onde aquele que tem menos condições, menos instruções, fica mais exposto. Deve ser feita auditoria? Sim. Deve ser feito um número gigantesco de auditorias no que diz respeito ao sistema eleitoral e urnas. Contudo, não podemos misturar necessidade de auditoria com volta do voto impresso. 

Sobre a PEC que prevê a obrigação de comprovantes físicos de votação, que devem ser depositados automaticamente, em uma caixa de acrílico acoplada à urna. A ideia seria permitir ao eleitor conferir se o recibo em papel coincide com seu voto. O senhor acha que isso é uma forma de avançar? 
Nós temos que colocar que isso já existiu. Tivemos isso em 2002. Vamos lembrar que a urna eletrônica começou em 1996. Em termos de história, ela é recente. Temos que pensar o seguinte: uma coisa que é impensável no momento é você entregar o voto na mão das pessoas. Porque a partir do momento que nós entregamos o papel na mão de alguém, estamos permitindo com que o lado humano interfira e, como somos seres humanos, somos tendenciosos a querer puxar a corda para o nosso lado ou de quem simpatizamos. Vem sendo divulgado de maneira falaciosa nas redes sociais que o voto impresso vai favorecer a pessoa, que ela vai receber o voto, pegá-lo em suas mãos e depositá-lo. Isso não pode acontecer de forma nenhuma.