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Covid-19

Indígenas entram em quarentena em MS

Lideranças se articulam e bloqueiam entrada de pessoas como forma de evitar disseminação da Covid-19

Em Mato Grosso do Sul, estado com população de mais de 65 mil indígenas, a segunda maior do país, lideranças já começaram a se preocupar com a disseminação da Covid-19 e desde a semana passada aldeias da etnia Terena fecharam as entradas e controlam o fluxo de pessoas, conforme explicou à CBN, o vereador Éder Alcântara, uma das lideranças da aldeia Buriti, localizada no município de Dois Irmãos do Buriti, a 115 Km da capital, Campo Grande.

“E as medidas que nós estamos tomando pra que tenhamos todo o cuidado para não sermos infectados e evitamos o contágio dentro de nossa comunidade, as lideranças em grupo revezam nas entradas das aldeias para que não entre nenhuma pessoas que não vive na cidade, nenhuma pessoa não indígena”.

Outra etnia que começa a se articular são os Kadiwéu, localizados em Porto Murtinho, na Serra da Bodoquena. “Nossa principal preocupação com epidemia é o grau de impacto que esse vírus poderá causar nos organismo de nossas populações indígenas, principalmente em nossa etnia Kadiwéu”, explica o enfermeiro Deones Gabriel, que atua no pólo de saúde responsável pela etnia.

Lideranças da aldeia Lalima, localizada no município de Miranda também informaram que não permitem mais a entrada de não indígenas como turistas, mascates e missionários. Estão suspensos eventos como os tradicionais jogos indígenas e a semana da cultura indígena que antecede o 19 de abril, dia do índio.

A aldeia Porto Lindo, no município de Japorã, também está com acesso restrito e segue orientações da Funai, conforme informações repassadas pelo professor doutor da Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Neimar Machado. Somente são aceitas na aldeia pessoas da saúde e segurança.

“A terra indígena de Te’ýikue também fez barreiras a partir de hoje (23) e a liderança das Aldeias Jaguapiru e Bororó, de Dourados, proibiram a circulação de vendedores ambulantes dentro da aldeia e recomendaram a interrupção dos cultos evangélicos nas igrejas no interior da reserva”, informou Machado.

A subsecretária de Políticas Públicas para a População Indígena de Mato Grosso do Sul, Silvana Terena, disse acreditar que o isolamento é a melhor forma de evitar a disseminação da Covid-19 entre as etnias. “As principais precauções hoje é não deixar que nosso povo saia do ambiente natural onde estão, bem distantes dos centros urbanos e, realmente, fazer essa limitação de entrada”.

Estrutura hospitalar

O professor doutor Neimar Machado explica que embora haja estrutura hospitalar ligada ao subsistema da saúde indígena, que é articulada ao SUS, a força de trabalho composta por 20 mil profissionais no Brasil não é suficiente para atender as 5.625 aldeias do país.  Machado também elenca como dificuldade a falta de repasse de recursos para hospitais. “O hospital Porta da Esperança, de Dourados, que em virtude do atraso do repasse de recursos financeiros no montante de R$870 mil há cerca de três meses está prestes a fechar, sem recursos para pagar plantonistas, já correndo risco de colapso antes mesmo da chegada do coronavírus, conforme informação do enfermeiro Zoroastro Almirão em manifestação na aldeia Jaguapiru”.