Claro que não podemos nascer de novo, pois também não podemos morrer mais de uma vez nem voltar uma e outra vez num processo de reencarnação purgativa. Na Bíblia, o porta-voz de Deus, é o autor da carta aos hebreus que diz “está determinado que os homens morram uma só vez” (cf. Hb 9,27) e, já depois dessa única morte, “vem o julgamento”.
João da Cruz – santo, doutor e místico – constatou para a nossa mais profunda alegria que no entardecer de nossa existência seremos julgados pelo amor. Que alegria!!! Que santo critério. Quão estupenda realidade. Deus que é amor, nos julgará naquilo que Ele é, amor! Ele que desde o batismo nos fez seus filhos, nos dá a última oportunidade de sermos completados no amor. Sim! Fomos feitos para o amor, no amor e com amor. Daí as angústias dos que não experimentamos o amor. Dos que não amamos. Dos que não temos certeza das fagulhas divinas em nós.
A carta de São João devia ser tida como tratado do amor de Deus (São Francisco de Sales escreveu um “Tratado do Amor de Deus”). São João recorda-nos de que todo aquele que ama nasceu e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a Deus! Pois, como pode conhecer a Deus (AMOR) aquele que não ama?!
O Senhor Jesus deu-nos o exemplo do amor sincero, verdadeiro. Ele nos amou primeiro. Deus com suas entranhas de misericórdia derrama sobre nós o bálsamo da vida nova. O céu aberto está!!! Vemos anjos subindo e descendo. Vemos a bondade se espalhando pela terra inteira. A Luz veio para clarear toda treva. Alguns a rejeitaram. Esquecem-se de que também estes são luz do mundo. Mas, como acender uma lâmpada para pô-la sob a cama?
Bom… voltemos ao início desta nossa conversa sobre o "novo nascimento". Na impossibilidade de nascer novamente, podemos, entretanto, modificar alguns comportamentos. Sobretudo aqueles do “homem velho” (da velha vida) que insiste habitar-nos mesmo depois da garantia de salvação que Deus nos deu. Quem está em Cristo é nova criatura!!! Recordemos o encontro de Nicodemos com Jesus e a proposta de Jesus a este: “é preciso nascer de novo… do alto”. Nascer do alto, buscar as coisas do alto, firmar o nosso coração na estatura da graça.
Outro dia, súbito, me vi obrigado a revisar um pensamento que corre solto pelos quatro cantos do mundo e do qual sou assaz citador. “É necessário aprender com os próprios erros”, dizemos. Mudemos um pouco a frase dando a ela nova roupagem e novo entendimento. “É preciso aprender com a correção dos próprios erros”. Erros em si não nos ensinam nada. Mas quando os enxergamos como tais, aí, sim!, podemos fazer a diferença. Ou consertando o errado ou fazendo de outra maneira daqui pra frente.
Desejo sejamos todos novos. Renovados em Jesus. Renovação que brota do interior pro exterior. Do coração aberto de Jesus na cruz ao nosso coração aberto pelos mesmos sentimentos que havia no Senhor. “O tempo urge” (1 Cor 7,29). Aproveitemos que “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8) e lhe peçamos a graça da perseverança final. Amém!
Padre Sandro Rogério dos Santos
Administrador da Paróquia São Miguel Arcanjo – Piquerobi
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