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César e Temer

Há 2.064 anos, o general Júlio César, voltando da Gália, chegou ao Rio Rubicão, a nordeste de Roma. A lei romana proibia generais de atravessarem o Rubicão acompanhados por suas tropas. Era uma forma de manter Roma à prova de generais que pretendessem tomar o poder. César chegou à margem do pequeno rio hesitante, mas decidiu atravessar e assumir o Império Romano. Ao transpor o limite, deixou a frase “A sorte está lançada”. Desde então, allea jacta est é a expressão latina usada para se referir à pessoa que assume uma decisão arriscada e sem volta. Desde setembro, tenho ditdo no rádio que  o vice Michel Temer anda com cara de César depois de ter atravessado o Rubicão. Agora a carta que ele enviou à Presidente, completa a História, pois o que escreveu indica que a sorte está lançada. 

O precursor da travessia foi o ministro Eliseu Padilha, ligado a Temer e negociador do PMDB, que não tendo sido recebido pela presidente nem pelo seu Ministro do Gabinete Civil, protocolou a demissão e caiu fora. A saída se completou com a troca do líder do PMDB, Leonardo Picciani, interlocutor de Dilma, pelo mineiro Leonardo Quintão, que votou na chapa que quer o impedimento, na tumultuada votação de terça-feira. O governo nega, para não se declarar fraco, mas o PMDB está fora do governo. E como o PMDB tem a maior bancada, é decisivo. Portanto, a sorte está lançada.

O governo não quer férias agora dos parlamentares, quer votar logo tudo o que puder no processo de impedimento. Sabe que a cada dia perde votos, com o aumento da inflação, do desemprego, a recessão e a perda de poder aquisitivo e ainda a Lava-jato. Há a expectativa da delação premiada do líder do governo no Senado, agora preso, senador Delcídio Amaral. Abandonado pelo PT e pelo governo, chamado de idiota por Lula, o Senador já contratou o advogado das delações premiadas. Se decidir colaborar com a Justiça, abrirá uma caixa de Pandora. O que endossará a expressão de que a sorte está lançada.

Só semana que vem o Supremo vai decidir se valeu a votação secreta que confirmou uma sorte já lançada: o governo perdeu por 272 a 199 na escolha dos integrantes da comissão que vai examinar a denúncia dos juristas Hélio Bicudo, fundador do PT,   Miguel Realli Jr. e Janaína Paschoal. Com 199 deputados, o governo ainda consegue bloquear o processo em plenário. Mas a cada dia perde apoio. Se não tiver 171, a presidente já é afastada para ser julgada pelo Senado. O Supremo poderá anular a votação secreta e exigir o voto nominal. Isso pode ser ainda pior para o governo. Deputados não querem defender “um trem descarrilado”, como definiu Lula. A presidente quer que o processo siga nas férias parlamentares. Na História, Júlio César atravessou o Rubicão em 10 de janeiro.